terça-feira, 8 de maio de 2012

Política do abandono

O final da parceria entre o Espaço Unibanco e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura revela mais do que a mera perda de um – e  praticamente único – cinema que exibe filmes de arte em Fortaleza. Como se isso não fosse lamentável o suficiente, a separação deixa claro o processo de sucateamento e abandono do qual o Dragão do Mar é vítima.

Enquanto se fala em revitalização da Praia de Iracema, com a reforma do calçadão e de alguns equipamentos do lugar, além da construção do Acquario do Ceará, parece que o equipamento fica esquecido. É certo que a ligação do Dragão do Mar com seu entorno sempre foi conflituosa. A população das comunidades vizinhas parece não se reconhecer no Centro Cultural, e a própria programação não é mais tão atrativa como foi na época em que o Dragão não era um espaço só de difusão cultural, mas também formador e produtor de artistas.

O criador do projeto que deu origem ao Dragão do Mar, Paulo Linhares, disse que a ideia era que, antes de tudo, houvesse espaço para formação de artistas e incentivo à criação, e é isso tudo que não existe no equipamento atualmente. A maioria das atrações, hoje, está nos arredores, ligados à indústria do entretenimento. A ausência de políticas culturais para o Dragão do Mar é um contrassenso, pois ocorre no momento em que um Centro Cultural da Caixa Econômica será inaugurado em frente a ele. Os dois centros se completariam, e alguns dos problemas que atingem a área, como a violência, poderiam ser minimizados com o aumento do fluxo de pessoas e do efetivo policial.

O descuido do Governo para com o Dragão do Mar é visível até fisicamente. A Praça Verde, que não tem mais grama, é um exemplo. As pedras soltas na Praça Rogaciano Leite Filho também. A pintura descascando atesta que o espaço precisa de um pouco mais de atenção. O pior é que a direção do lugar age como se não tivesse explicações para dar, como se o Dragão estivesse funcionando sem problemas. É bom lembrar que se trata de um equipamento singular no Ceará, com 30 mil metros quadrados dedicados – teoricamente – à cultura.

O descaso do Governo do Estado com a Secretaria da Cultura (Secult) também pode ter contribuído para a situação do Dragão. Por não ser política pública – e sim fazer parte do projeto de uma gestão –, ser subordinado a um governador como Cid Gomes pode ser fatal para o Centro Cultural. E se a própria Secult passou meses sem comandante efetivo, imagine como são tratados os equipamentos que dependem dela para acontecer.

O Governo do Estado não pensa cultura como política pública a ser fomentada para elevação do nível intelectual do cearense. Para nossos mandatários, o lucro precisa ser imediato, e necessariamente monetário, o que nem sempre a produção cultural conseguirá proporcionar. O Governador, que parece frequentar apenas espetáculos megalomaníacos no exterior – para tentar fazer uma versão tupiniquim –, pensa que basta colocar um chapéu de engenheiro para resolver todas as necessidades da população, até as imateriais.

Não podem ser esquecidas, no entanto, outras carências que temos, impossíveis de serem supridas com grandes obras. São carências no campo da formação educacional e cultural, e elas só serão resolvidas com uma política efetiva de fomento à cultura. Não nos contentemos com as migalhas oferecidas, pois elas só enganam nossa fome. E de paliativos estamos fartos.

3 comentários:

  1. Querida amiga

    O pior
    não é a perda,
    mas que poucos
    percebam
    esta perda...

    Que os sonhos te acompanhem sempre.

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  2. Eu era frequentadora do cinema do Dragão e não entendia o motivo da paralisação da programação.
    Eis que,l por acaso, acho seu blog e me vejo entristecida pelo descaso por um espaço que me traz lindas lembranças.

    Nadyegida Barbosa

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