quarta-feira, 28 de julho de 2010

Dizem que ela existe pra proteger



Depois de quase duas semanas viajando, estava meio por fora do mundo. Imagine, então, minha surpresa ao ler o jornal e encontrar uma baita reportagem por causa de um garoto de 14 anos morto por um policial do Ronda do Quarteirão, um dos grandes projetos do Governador Cid Gomes. Ironicamente, o slogan do programa é "a polícia da boa vizinhança".
A indignação vai perpassando a narração dos fatos. O menino estava ajudando o pai no trabalho, e foi morto por ser considerado suspeito e não ter parado quando o guarda ordenou que parasse. O pai, que conduzia a moto, disse que apenas não ouviu a ordem. O policial, no entanto, não quis saber. Atirou e depois perguntou, uma ação não muito incomum quando se trata de suspeitos pobres, ainda mais quando eles são potenciais ameaças à uma área nobre, como o bairro no qual aconteceu o assassinato.
As posições assumidas são diversas. Enquanto o Governador diz ter sido um erro pessoal e que não mancha a imagem da corporação, a Prefeita de Fortaleza defende o desarmamento da Guarda Municipal e criticou o despreparo policial. Fala-se muito, nos últimos tempos, em proteção e em ficar refém dos bandidos, criando um clima de vale tudo e de salve-se quem puder. Ao invés de investir na base, ou seja, na educação, canalizam-se os investimentos para a segurança, especialmente a bélica, como se repressão fosse a solução. Ela até pode intimidar - ainda que de forma sutil -, mas a cada vida perdida por causa dela, tem-se mais certeza de que não é o caminho.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lugar de mulher

As inúmeras informações sobre o caso do assassinato da amante do goleiro Bruno me enojaram como há muito tempo não acontecia. Não apenas pela brutalidade do acontecido, mas pelas declarações feitas anteriormente pelo próprio jogador, que julga ser aceitável, e até usual, bater em mulheres, escancarando muito do machismo que ainda sobrevive no Brasil.
Há uma coisa que me inquieta muito ao ver toda essa exploração em cima da história: o fato de muitas outras mulheres sofrerem abusos cotidianamente e tudo ser encarado como ordem natural das coisas, sem espanto nenhum. A Lei Maria da Penha está aí, as delegacias especiais, também, mas os crimes continuam sem punição. Parece até que a culpa de ser abusada é da própria mulher, principalmente, em localidades mais interioranas, nas quais o patriarcalismo ainda é bem forte.
Fico preocupada com o quanto essas questões, mais sérias que o caso em si - já transformado em show de horror e de espetacularização pela mídia -, são deixadas de lado, como se não influenciassem ou não existissem. Já ouvi quem dissesse até que a moça era prostituta, buscando uma justificativa para o crime. O pior é que falar em Direitos Humanos quando ainda nos encontramos em um estágio animalesco chega a ser inusitado.