quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A culpa é do Fidel (?)

Fazia tempo que pensava em algo pelo que valesse a pena parar um pouco para escrever, mas ainda não tinha encontrado. Eis que abro a internet há pouco tempo e encontro a notícia de que Fidel Castro afirmou que o modelo de Cuba não serve mais nem pra eles. Seria mentira negar a surpresa e o pesar com que li a manchete.
Ao ler a matéria, no entanto, as coisas ficam mais claras. O que não funciona mais é essa burocratização toda, a repressão, e os favorecimentos que, inevitavelmente, aparecem. Creio que a questão não seja ideologia, mas a forma como foi aplicada, uma vez que o comunismo, como prática, não aconteceu de fato. As tentativas de estabelecê-lo acabaram degeneradas, como na União Soviética stalinista, ou sufocadas, como o exemplo da pequena ilha americana. Apesar dos erros, inegáveis são os avanços na educação e na saúde - áreas interligadíssimas - dos cubanos desde a Revolução.
O que é imprescindível, agora, é encontrar novas formas de colocar em prática as idéias de justiça e de igualdade exaltadas em 59, sem esquecer das palavras do Che - que dizia que todo revolucionário era um apaixonado -, porque, sem amor, cai tudo no vazio.
Leia aqui o comentário do Comandante sobre as declarações.

sábado, 14 de agosto de 2010

Do racismo

Fiquei atônita ao ler a notícia sobre a nova manifestação a ocorrer nos EUA. Que a sociedade estadunidense é extremamente conservadora não é novidade. Mas daí a um ato com inspiração nazista, é demais. Parece que a idéia é jogar no lixo os avanços conseguidos na década de 60, esquecendo o quanto custou, tanto em desgaste, quanto em vidas, já que as organizações como a Ku Klux Klan nunca deram muito sossego aos seus perseguidos.
Fico impressionada com a tranquilidade com que se defende a "América para os americanos", e só para os brancos, incriminando todos os outros, tanto estadunidenses mestiços quanto imigrantes. Os resultados da última vez em que se pregou uma raça superior e pura não foram muito bons, e o que era encarado como herança maldita - Hitler e toda a simbologia nazista - está começando a ser visto sem receio. Pelo menos, a quem convém.
Um exemplo do quanto ainda estamos suscetíveis a mais atrocidades e nem sabemos:

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Dizem que ela existe pra proteger



Depois de quase duas semanas viajando, estava meio por fora do mundo. Imagine, então, minha surpresa ao ler o jornal e encontrar uma baita reportagem por causa de um garoto de 14 anos morto por um policial do Ronda do Quarteirão, um dos grandes projetos do Governador Cid Gomes. Ironicamente, o slogan do programa é "a polícia da boa vizinhança".
A indignação vai perpassando a narração dos fatos. O menino estava ajudando o pai no trabalho, e foi morto por ser considerado suspeito e não ter parado quando o guarda ordenou que parasse. O pai, que conduzia a moto, disse que apenas não ouviu a ordem. O policial, no entanto, não quis saber. Atirou e depois perguntou, uma ação não muito incomum quando se trata de suspeitos pobres, ainda mais quando eles são potenciais ameaças à uma área nobre, como o bairro no qual aconteceu o assassinato.
As posições assumidas são diversas. Enquanto o Governador diz ter sido um erro pessoal e que não mancha a imagem da corporação, a Prefeita de Fortaleza defende o desarmamento da Guarda Municipal e criticou o despreparo policial. Fala-se muito, nos últimos tempos, em proteção e em ficar refém dos bandidos, criando um clima de vale tudo e de salve-se quem puder. Ao invés de investir na base, ou seja, na educação, canalizam-se os investimentos para a segurança, especialmente a bélica, como se repressão fosse a solução. Ela até pode intimidar - ainda que de forma sutil -, mas a cada vida perdida por causa dela, tem-se mais certeza de que não é o caminho.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lugar de mulher

As inúmeras informações sobre o caso do assassinato da amante do goleiro Bruno me enojaram como há muito tempo não acontecia. Não apenas pela brutalidade do acontecido, mas pelas declarações feitas anteriormente pelo próprio jogador, que julga ser aceitável, e até usual, bater em mulheres, escancarando muito do machismo que ainda sobrevive no Brasil.
Há uma coisa que me inquieta muito ao ver toda essa exploração em cima da história: o fato de muitas outras mulheres sofrerem abusos cotidianamente e tudo ser encarado como ordem natural das coisas, sem espanto nenhum. A Lei Maria da Penha está aí, as delegacias especiais, também, mas os crimes continuam sem punição. Parece até que a culpa de ser abusada é da própria mulher, principalmente, em localidades mais interioranas, nas quais o patriarcalismo ainda é bem forte.
Fico preocupada com o quanto essas questões, mais sérias que o caso em si - já transformado em show de horror e de espetacularização pela mídia -, são deixadas de lado, como se não influenciassem ou não existissem. Já ouvi quem dissesse até que a moça era prostituta, buscando uma justificativa para o crime. O pior é que falar em Direitos Humanos quando ainda nos encontramos em um estágio animalesco chega a ser inusitado.

domingo, 27 de junho de 2010

Ler devia ser proibido


Peguei-me pensando, ultimamente, em algumas coisas que tiveram um papel fundamental na formação do meu caráter e das minhas convicções, e, sem dúvida alguma, a leitura foi uma parte imprescindível. Claro que os livrinhos que lhe introduzem ao mundo das letras são importantes, mas falo do que realmente dá suporte ao pensamento, do que, de fato, como diz Mário Quintana, muda as pessoas, e as ajuda a mudar o mundo.
Já escutei, em pleno século XXI, pessoas dizendo que "quem lê demais fica meio doido, ateu, subversivo, perigoso". Então, que sejamos realmente perigosos, independentemente do credo ou da sanidade mental, porque, se for pra transformar esse mundo, tem que ser subvertendo.

"E tão bela é a manhã da liberdade que vale a pena morrer por ela, dar a vida pela certeza de que ela vem, que chegará para os homens. Mas, ah!, amiga, morrer é fácil, seja por uma mulher, seja pela liberdade! Difícil é viver uma vida se sofrimento e de luta, sem desanimar e sem desistir, sem se vender, sem se curvar. Mais que a morte, a liberdade pede a vida de cada um, todos os seus momentos, todas as suas forças."
Jorge Amado - Trecho de "O Cavaleiro da Esperança"

terça-feira, 15 de junho de 2010

O dia em que o Brasil parou

Jurei para mim mesma que, nesta Copa, ia tentar ser mais tolerante e internalizar minha falta de apreço pela Seleção Brasileira. O plano vai até indo bem, estou aproveitando que gosto de futebol para acompanhar alguns jogos, mas hoje foi demais. Vou logo deixar claro: o que me incomoda não é o fato da competição em si, mas do que dela decorre. Parece que o mundo pára para viver algo que se transformou em negócio, puro e simples negócio. Tanto é que o que constatei nos jogos que vi - uma boa parte -, foi apelação pra retranca e covardia. Jogo bonito que é bom, pouquíssimo. Sem contar a polêmica por conta da bola, com uma mão toda dos patrocinadores, certamente.
Voltando ao que me fez abrir uma exceção no meu silêncio patriótico: as notícias. Quando fui ver as novidades do mundo após o jogo do Brasil, eis que deparo toda a página repleta de comentários e fatos sobre a Copa, como se o único acontecimento importante fosse esse. Impossível não fazer a conexão com Bourdieu e seu "Sobre a Televisão", no qual ele fala sobre a prioridade que a grande mídia dá ao que não tem tanta relevância assim, nem causa polêmica, os chamados fatos-ônibus, que agregam todo mundo e ocupam o espaço do que realmente informa. Engraçado que bastava descer a barra de rolagem e encontrar notícias sobre o aumento da aposentadoria, sobre a Coréia do Norte ameaçando a ONU e o mundo e sobre o vazamento de petróleo nos EUA. Até onde imagino, qualquer um desses acontecimentos afetaria muito mais a vida de qualquer ser humano que o resultado de uma partida de futebol.
A diversão é fundamental, mas, se vira circo, começa a ser perigosa - e não é um perigo que beneficie a maioria.

sábado, 5 de junho de 2010

Viva o verde!

Dia do Meio Ambiente é um prato cheio para autopromoção de empresas que dizem ter um compromisso com a preservação da natureza. Até acredito, ainda que com muitas desconfianças, que algumas delas tenham o compromisso com o desenvolvimento sustentável e coloquem em prática algumas ações alegadas, mas engolir que todas que propagam suas benesses de fato o façam é pedir demais à minha consciência.
Tiro pela propaganda de um shopping de Fortaleza, construído no meio do mangue, que alega ter plantado toda a área verde existente ao redor. Achando pouco, mais um edifício está sendo concluído. Desta vez, a poucos metros do rio existente. Em uma cidade na qual qualquer chuvinha parece um dilúvio, um empreendimento do tipo será ótimo para agravar a situação caótica das nossas ruas e aumentar os treinamentos de salto em distância por quais os pedestres têm que passar para poder caminhar sem se molhar. Sem falar das outras implicações, porque construções desse porte não acarretam pequenas consequências.
Há, ainda, a moda verde, como se consumir exacerbadamente não fosse uma das formas de contribuir para a poluição, desmatamento e exploração dos recursos naturais. Para tirar eximir o consumidor de qualquer culpa, as lojas oferecem sacolas retornáveis para a pessoa carregar os inúmeros acessórios dispensáveis que está levando, tudo para que o consumidor só se preocupe em comprar, porque, do resto, o sistema cuida. E como está cuidando bem, não?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Não temos tempo de temer a morte



Entrar no elevador ou receber uma circular condominial no meu prédio são sempre momentos emocionantes, pois não sabemos o que vamos deparar. Entre a proposta de transformar o salão de festas em uma casa de chá - como dizia Cazuza, são caboclos querendo ser ingleses - até a de construir uma rampa para cadeirantes, tudo é possível.
A última proposição foi a de construir uma brinquedoteca comum - com jogos e brinquedos que os infantes têm em casa -, como se as crianças não estivessem preocupadas em correr e liberar energia ao saírem do sufocamento de seus quartos. O argumento é sempre o mesmo: o perigo do mundo, evitar sair de casa por causa da violência... E, assim, os filhos de apartamento, com mentalidade tal, vão se propagando.
Não sei como se pode ambicionar criar uma pessoa esclarecida e ativa socialmente, se ela não conhece a vizinhança - pelo menos, não mantém nenhum contato sem o vidro do carro interpondo-se -. Vai ver que a idéia é só disseminar o "homem de bem", figura da qual tenho um medo profundo, cultivando o seu individualismo característico, capaz de tudo para manter sua proteção - e a da família, claro -.
Eu já vejo a questão por outro lado. Não é porque os perigos são inumeráveis que a solução é trancafiar-se. Pelo contrário, grandes combates são sempre necessários, e não se entra em ação lutando contra as quatro paredes do quarto, nem defendendo apenas SEU quinhão, deixando o do outro para ele se virar sozinho para cuidar.

"Nas ocasiões em que tudo leva ao medo, não se deve ter medo de nada; quando se está rodeado de perigos, não se deve temer perigo algum."
(Sun Tsé)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Por um pouco mais de utopia



Não é preciso muita coisa para me fazer ter saudades do que não vivi nos anos 60/70. Mas o documentário Utopia e Barbárie reacendeu a esperança no porvir, por causa dos elementos que traz.
O filme, que começa com sobreviventes da bomba atômica contando uma das maiores barbaridades já cometidas pelo homem, chega até os dias atuais sem, ao contrário do que vemos com frequência, execrar a juventude do Século XXI, como se fôssemos homogêneos e alienados. Embora eu tenha muitas críticas a fazer sobre minha geração, ressalvas necessitam ser feitas, porque entregar os pontos logo de cara é conveniente demais para ser aceito tão facilmente.
Existem algumas partes especialmente emocionantes, como as cenas de conflitos em 68, as do Chile após a eleição e após o assassinato de Salvador Allende, sem contar as entrevistas. Uma das sobreviventes japonesas da Segunda Guerra, que citei anteriormente, disse que nunca esqueceu a mãe que ninava uma criança sem cabeça logo que a bomba explodiu e devastou grande parte da população da cidade, para não falar do que não se apaga.
Apesar dos diversos elementos que destaquei, o que achei mais fantástico foi a vontade de fazer história - e de, como diz Augusto Boal, viver em sociedade, não apenas vegetar nela - quando terminei de assistir a película, que demorou 19 anos para ser produzida. Infelizmente, o que encontrei, ao deixar a sala de exibição, foi a aridez cotidiana. Entretanto, como a beleza também está nos olhos de quem vê, injeções de ânimo como essas servem para enxergamos o mundo com brilho - e nos dar força para refleti-lo na realidade -.

sábado, 8 de maio de 2010

É de lei



Ao chegar ao fim da segunda parte da empreitada para tirar a Carteira de Habilitação, as aulas de Legislação, fico imaginando o que passa pela cabeça de quem as faz obrigatórias. Lógico que é necessário ter uma noção do que se passa no Código de Trânsito, mas daí a decorar as infrações - que, normalmente, continuam a ser cometidas -?
O pior é que, se o objetivo é conscientizar, ele vai por asfalto abaixo. Como se costuma fazer após uma avaliação, esquece-se do que foi estudado, principalmente, na prática. Prova disso são as altas taxas de morte no trânsito. Será que toda essa burocracia é, de fato, a solução?
O ditado "santo de casa não faz milagre" é verdadeiríssimo no Brasil. Décadas depois dos estudos de Paulo Freire, inclusive ressaltando a importância da autonomia do aluno, ainda se insiste na imposição das determinações, sem diálogo algum. Em um local onde, ao invés de preocuparem-se em mudar a lei, os "cidadãos" preferem buscar meios de dar um jeitinho e burlá-la, é, realmente, muito mais conveniente.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Mergulho no silêncio

Segunda-feira, horário de pico, terminal lotado. Como de costume, ele senta no mesmo banco, para esperar o mesmo ônibus. Entra-e-sai, pregações, conversa e barulho, muito barulho. Tudo seguia em acordo com a normalidade, quando ele sente uma mudança súbita.
De repente, como se todos ficassem consternados, o único som que rompe o silêncio é o barulhinho de tic-tac do vendedor. Nem um ônibus, nem uma palavra. Pensamentos somente, e cada um guardando o seu. Ele ficou tão impressionado que mal conseguiu levantar do lugar onde estava sentado; só queria observar, para não estragar aqueles minutos tão improváveis. Em meio à conturbada rotina e às muitas palavras inúteis gastas a todo hora, um diminuto tempo para organizar as ideias parecia um oásis.
E foi pouco mesmo. Logo depois, ele se deu conta de estar, novamente, imerso na loucura nossa de cada dia, com os ônibus fazendo seus barulhos característicos e as pessoas correndo. Provavelmente, para viver.
Ele, ainda no piloto automático, entrou no Varjota para ir pra casa. Surpreso, acordou com o barulho da cordinha puxada por si mesmo, ao notar que perdera a parada.

A um amigo que, muito mais que a inspiração do texto, me traz a inspiração cotidiana, ainda que ele nem saiba disso.

domingo, 18 de abril de 2010

É a conta menor que tiraste em vida



Mais um aniversário do massacre dos camponeses em Eldorado dos Carajás chega e pouca coisa muda. Apesar de terem ganhado um dia que deveria nos lembrar a injustiça ainda reinante, os trabalhadores sem terra continuam amargando as antipatias usuais das elites e dos meios de comunicação que as refletem, como se lutassem por uma causa imoral.
O MST é, frequentemente, reduzido a uma corja de radicais preocupados em danificar a terra alheia. Esquece-se, porém, de que muitos desses latifúndios causam um dano social muito maior, pois permanecem improdutivos, enquanto milhares de pessoas não têm, literalmente, onde caírem mortas. A grande mídia, por sua vez, exerce, magistralmente, o papel de conservadora do status quo, já que reforça, de todas as formas possíveis, os preconceitos e satanizações do movimento.
Li, uma vez, não tenho certeza se era verdade, que existe, no Amazonas, uma fazenda do tamanho do estado de Sergipe. Verídica ou não, a informação ilustra a gravidade da questão fundiária no Brasil. Em uma situação assim, reforma agrária só pode ser considerada obra do capeta mesmo. E, do jeito que a palavra de Deus tem sido usada por quem não devia, não é de surpreender que o coisa ruim cuide do Reino dos Céus.

Uma atualização: Nessa semana, aqui no Ceará, onde não imaginava que os conflitos por terra fossem tão intensos, um líder comunitário foi cruelmente assassinado, provavelmente, pelas causas que defendia. São muitos, quantos mais teremos que contar?

domingo, 11 de abril de 2010

Bento XVI e a Igreja Católica



Confesso que tive dúvidas para escolher sobre o que escrever nestes dias. Mais cedo, abri meu email e a definição veio: recebi um bom texto de Frei Betto, no qual ele comentava os últimos acontecimentos da Igreja. Vou apenas reproduzi-lo abaixo, pois o que eu poderia dizer, já foi colocado - e de uma forma bem mais competente -.

Vinde a eles as criancinhas? - Frei Betto*

As sucessivas denúncias de pedofilia e abuso sexual cometidos por sacerdotes e acobertados por bispos e cardeais envergonham a Igreja Católica e abalam a fé de inúmeros fiéis.
No caso da Irlanda, onde mais de 2 mil crianças entregues aos cuidados de internatos religiosos foram vítimas da prática criminosa de assédio sexual, o papa Bento XVI divulgou documento em que pede perdão em nome da Igreja, repudia como abominável o que ocorreu e exige indenização às vítimas.
Faltou ao pontífice determinar punições da Igreja aos culpados, ainda que tenha consentido em submetê-los às leis civis. O clamor das vítimas e de suas famílias exige que a Santa Sé aja com rigor: suspensão imediata do ministério sacerdotal, afastamento das atividades pastorais e sujeição às leis civis que punem tais práticas hediondas.
A crescente laicização da sociedade europeia reduz drasticamente o número de fiéis católicos e a freqüência à igreja. O catolicismo europeu, atrelado a uma espiritualidade moralista e a uma teologia acadêmica, afastado do mundo dos pobres e imbuído de um saudosismo ultramontano que o faz ignorar o Concilio Vaticano II, perde sempre mais o entusiasmo evangélico e a ousadia profética.
Dominado por movimentos fundamentalistas que cultivam a fé em Jesus, mas não a fé de Jesus, o catolicismo europeu cheira a heresia ao incensar a papolatria e encarar o mundo não mais como vale de lágrimas e sim como refém de um relativismo que corrói as noções de autoridade, pecado e culpa.
Ao olvidar a dimensão social do pecado, como a injustiça, a opressão, o latifúndio improdutivo ou a apologia da desigualdade, o catolicismo liberal centrou sua pregação na obsessão sexual. Como se Deus tivesse incorrido em erro ao tornar a sexualidade prazerosa. Como o Espírito Santo se vale de vias transversas para renovar a Igreja, tomara que as denúncias de pedofilia eclesiástica sirvam para pôr fim ao celibato obrigatório do clero diocesano, permitir a ordenação sacerdotal de homens e mulheres casados e ultrapassar o princípio doutrinário, ainda vigente, de que, no matrimônio, as relações sexuais são admissíveis apenas quando visam à procriação. Ora, tivesse Deus de acordo com tal princípio, não teria feito do gênero humano uma exceção na espécie animal e, portanto, destituiria o homem e a mulher da capacidade de amar e expressar o amor por meio de carícias e incutiria neles o cio próprio dos períodos procriatórios dos bichos, o que os faz se acasalar.
Jesus foi celibatário, mas é uma falácia deduzir que pretendeu impor sua opção aos apóstolos. Tanto que, segundo o evangelho de Marcos, curou a sogra de Pedro (1, 29-31). Ora, se tinha sogra, Pedro tinha mulher. E ainda foi escolhido como primeiro cabeça da Igreja.
Os evangelhos citam as mulheres que integravam o grupo de discípulos de Jesus: Suzana, Joana etc. (Lucas 8, 1-3). E deixam claro que a primeira pessoa a anunciar Jesus como Deus entre nós foi uma apóstola, a samaritana (João 4, 39).
Nos seminários e casas de formação do clero e de religiosos é preciso avaliar se o que se pretende é formar padres ou cristãos, uma casta sacerdotal ou evangelizadores, pessoas submissas ao figurino romano ou homens e mulheres dotados de profunda espiritualidade evangélica, afeitos à vida de oração e comprometidos com os direitos dos pobres.
No tempo de Jesus, as crianças eram desprezadas por sua ignorância e repudiadas pelos mestres espirituais. Jesus agiu na contramão dos preceitos vigentes ao permitir que as crianças dele se aproximassem e ao citá-las como exemplo de fidelidade a Deus. Porém, deixou claro que seria preferível amarrar uma pedra no pescoço e se atirar na água do que escandalizar uma delas (Marcos 9, 42). As sequelas psíquicas e espirituais daqueles que confiaram em sacerdotes tarados são indeléveis e de alto custo no tratamento terapêutico prolongado. As vítimas fazem muito bem ao exigir indenização. Resta à Igreja punir os culpados e cuidar para que tais aberrações não se repitam.
*Escritor e assessor de movimentos sociais.

Espera-se que a justiça seja feita - sem diferenciações - para ver se as Igrejas, de um modo geral, passam a enxergar as necessidades dos seus fiéis, já que muitos não têm nem o pão nosso de cada dia.

domingo, 4 de abril de 2010

Terra nem tão civilizada assim

Fui, na semana Santa, visitar uns tios que moram no Maranhão. Embora não tivesse ouvido falar bem do estado, gostei muito. Assim como as de Alcântara, as ruas do centro histórico de São Luiz transpiram história e beleza, o que serviu para aumentar minha indignação com o que foi feito do lugar.
Indignação de ver casarões, alguns com mais de 200 anos, abandonados. Tombados, mas sem conservação alguma. Azulejos arrancados, plantas tomando conta das casas e, nas habitadas, moradias miseráveis são cenas comuns quando se passeiam pelas ruas de calçamento do centro da capital. Em meio a esse mar de descaso, há um antigo convento bem arrumado. Explica-se logo: o prédio abriga o Memorial de José Sarney.
A impressão que se tem é a de estar em uma terra sem dono. Aliás, com um só: uma certa família. Precisa explicitar qual? É o velho costume de governar o bem público como se fosse privado, sacrificando, se preciso for, uma população, a história e o desenvolvimento de um estado, porque prestar esse desserviço em 40 anos é perfeitamente possível.
Por fim, há uma música em um supermercado maranhense que diz que o local é bom demais. Eu o modificaria afirmando que há tempo de torná-lo muito bom. Não eleger os Sarney - nem deixá-los tomar o poder a força, como fizeram no último pleito - já é um grande primeiro passo.

domingo, 21 de março de 2010

Seja o que for, seja por amor às causas perdidas

Depois da euforia por passar no Vestibular - o obstáculo mais instransponível que eu conhecia - e dos primeiros dias de magia por estar na faculdade, a ficha começa a cair. E o primeiro pensamento foi: Putz, cresci!
Apesar de sonhar com independência, não posso negar a angústia que encarar a "vida real" me causa. E se eu não viver sorrindo para exibir minha felicidade consumível? E se não arranjar um emprego no qual ganhe, por mês, o que muitos não recebem a vida toda? E se não tiver casa, filhos e carro na garagem?
Parece que se chega a uma etapa em que todos devem agir uniformemente, levando as mesmas insossas vidas - variando, apenas, os personagens -. Dedicar a vida a outra coisa que não seja exibir o filho, campeão em suas múltiplas atividades extra-curriculares, como troféu é absurdo, porque a ordem é não se importar com mais nada que não seja si mesmo e os entes queridos. Este é um dos poucos momentos em que penso em colocar uma criança no mundo, só para me juntar aos que educam os seus na contramão.
O fato é que, como não deve ser difícil de perceber, sou uma criatura atípica. Não quero ter uma mansão, ostentar três carros na garagem ou viver "feliz". Segundo alguns, penso pequeno, porque poderia enriquecer e ser bem sucedida, como se fossem sinônimos. O que chamam de sucesso, chamo de amarras. E sinto - na verdade, não tenho remorso algum por isso - desapontar os que crêem que tudo é monetarizável, mas meu sucesso não é rentável, pois não quero fazer mais do que o dever de cada um: lutar contra a injustiça e desigualdade reinante, reanimando-me cotidianamente, por mais desestimulante que seja a realidade. Quem sabe se, com um pouco de amor, as causas perdidas não voltam a ser possíveis?

terça-feira, 9 de março de 2010

Sujeira pra todo lado!



Vivemos em um país tão pitoresco que nos espantamos quando a lei é cumprida. A última surpresa foi ver o habeas corpus de Arruda ser negado, além da permissão para reabrir a Operação Satiagraha.
Há uma inversão de valores tão absurda que parece errado ser honesto ou pensar em alguém que não seja você mesmo - e nos (poucos) entes queridos -. Falando em favorecimentos, no mínimo, obscuros, é curioso como se costuma tratar o bem público como particular, mas na hora de arcar com as consequências, a maioria foge. Seria interessante se os que assaltam os cofres do Estado pensassem nelas antes de fazê-lo, mas pedir que saiam de suas confortáveis posturas é demais, embora não seja mais que a obrigação deles.
É impossível não sentir a esperança renascendo ao deparar as notícias indicando certa mudança. Espero que não seja como o Mito de Sísifo, no qual o protagonista quase chegou ao topo de uma montanha carregando uma pedra e ela desaba em cima dele. Que não tenhamos, novamente, os sonhos esmagados.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Arruda ressentido. Quem perguntou como se sente o cidadão?

Não sei nem dizer se realmente fiquei abismada, mas não posso negar a surpresa ao ler que o ex-Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, se disse ressentido devido aos últimos acontecimentos. Parece um teste para ver até quando ainda é possível brincar com a população impunemente.
As imagens - e o passado do político - não negam que ele merece a cadeia, e Arruda ainda tem a cara-de-pau de inventar chateação. A única razão pela qual seu aborrecimento seria aceitável é o fato de o Brasil ser um país onde trapacear e tirar vantagem são atividades encaradas com normalidade e ele teve o azar de ser flagrado cometendo o crime. E uma medida mais exótica ainda: a lei está sendo, até agora, cumprida. Certamente, o ex-Governador vislumbrava um acordão para salvar o pescoço, o que se mostrou uma ilusão. Só espero que, daqui a alguns dias, não haja motivo para ele caçoar da sociedade que o julgava impotente.
A afirmação de Arruda fez-me, ainda, levantar outra questão: se ele, com todas as mordomias das quais dispunha - tudo pago pela população -, acha-se no direito de reclamar de algo, imagine o cidadão comum, que paga seus impostos sem receber nada em troca, que encara uma jornada de trabalho exaustiva por um salário mínimo. Sorte dos poderosos que a tensão social no país é pequena - sem mencionar o grau de reflexão crítica das pessoas -, senão, estaríamos vivendo em um barril de pólvora. E motivos para sua explosão não faltam.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una

Estava em um bar, durante o Carnaval, em que tocava Raul Seixas e oferecia sinuca para os clientes, quando uma amiga comentou comigo a cena a que tinha acabado de assistir: uma família bem convencional passava pelo local, com os vidros do carro fechados, claro. De repente, o filho olha para dentro do "antro de perdição" e o pai dá-lhe um tapinha nas costas, como quem o manda ficar longe daquilo.
Cada um tem o direito de ir aonde quiser, de frequentar os lugares que desejar - e vai-se criando uma população que só conhece o próprio umbigo -, mas que se mantenha, ao menos, a coerência. Duvido que esse pai de família nunca tenha estado em ambientes como o que agora quer afastar. Vai ver que é o mesmo rapaz que, há alguns anos, fumava maconha porque todo mundo o fazia.
Não quero dizer que as posições não possam ser revistas, mas sem falso moralismo. Uma violência muito maior que contemplar a vida boêmia é a frieza cotidiana, por exemplo. Presenciar o pai pensando em cianureto - e a mãe sonhando com formicida - é bem mais traumatizante que o contato com a vida real. O preocupante é que o atual filho terá sua família daqui a alguns anos, quiçá, carregando os mesmos vícios - constantemente, encarados como virtudes -.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Inteligência ficou cega de tanta informação

Estava procurando um pretexto para escrever sobre o assunto, quando minha irmã pequena e meu primo me disseram que eu sabia tudo, afinal, terminara o 3º ano. Inocências infantis à parte - já que eles não têm noção do que lhes aguarda -, a afirmação serviu para lembrar quanta inutilidade ganhei no ano passado.
Deixando de lado a parte afetiva, que se desenvolveu imensamente no calor das emoções, posso contar nos dedos o conhecimento adquirido nesse finalzinho de escola. Até consegui entender melhor algumas situações, embora que a maioria seja as que merecem combate cotidiano.
Compreendi como é fácil crescer e ir-se acomodando. A receita é simples: chega-se à casa esgotado ou esgotada de tantas atribuições e a única coisa que se deseja é uma cama e uma televisão, nada que exija reflexão. Como trabalha-se para possuir confortos que nem são utilizados, pois não dá tempo, entra-se no ciclo trabalhar-para-descansar, que parece começar antes, no se-matar-para-passar. E, a partir daí, vem o status, os parabéns, o primeiro emprego e as obrigações pequeno-burguesas. Como diz um entrevistado em um documentário ao qual acabei de assistir - Surplus -, protestar e tentar mudar algo não é sem sentido. Sem sentido é ficar sentado, usando drogas, assistindo a MTV, arranjar um emprego e se submeter. Isto é violência.
Apesar de não ter dividido as questões que as crianças me trouxeram com elas, percebi que, ao contrário do que imaginam, não devo saber muito mais que antes, pois é complicado desenvolver a mente ao privar-se de excelentes leituras e filmes durante o ano. Vai ver que é este o objetivo: atrofiamos tanto que esquecemos até nossas convicções, perpetuando o mundo de sempre, deixando os sonhos em vidas passadas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CHII-CLEE-TE!

É incrível como as músicas de qualidade duvidosa pregam na cabeça com uma facilidade imensa. Basta escutá-las na rua uma vez para que elas passem o dia ressoando, enquanto você tenta concentrar-se, ou, simplesmente, ficar em silêncio, ainda que internamente.
O que mais me espanta nelas, no entanto, não é a capacidade de se fazer memorizar, mas as letras sem conteúdo algum. "Eu quero mais é beijar na boca", "Paz, Carnaval, futebol: não mata, não engorda e não faz mal", "Encosta n'eu, dá um cheiro n'eu", pérolas da poesia, ficam sendo repetidas como mantras, lembrando-me as lavagens cerebrais de "Admirável Mundo Novo".
Em uma sociedade vazia, elas reproduzem a mentalidade da população, preocupada apenas com o prazer a qualquer preço - que saudades dos epicuristas e seu hedonismo inteligente - e com o placar do jogo de domingo. Pior ainda, condicionam-na a crer que estão vendo tudo o que existe, servindo para conformá-la e controlá-la.
É necessária, portanto, uma reeducação - até ideológica -, pois não há avanço sem confronto com a realidade. Se as músicas da moda não mais agradáveis, poucas delas acrescentam algo ao ouvinte. Que falta fazem os Festivais de Música que representavam toda a resistência e força de uma geração. O problema é que, talvez, o que falte não seja os Festivais, e sim, a resistência.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Da academia (de ginástica!)



Já passei por alguns episódios que me renderam eternas piadas feitas pelos amigos. Depois de um 3º ano no qual me engajei ainda mais no movimento sedentário - passando grande parte do dia sentada -, resolvi encarar o, provavelmente, mais aventureiro deles: a academia.
Com uma forcinha do resultado não muito positivo de alguns exames, resolvi que ir-me-ia perder na selva de pedra, e fui fazer a matrícula com a minha cara de quem nunca pisou numa esteira. Para não ter mais opção, paguei logo o ano inteiro.
Trajando um uniforme dos jogos da escola e all star, o contraste com meus colegas - imersos em animadas conversas sobre raves, corpo perfeito e competições de quem aguenta mais peso - era notório. Devo confessar que, ao ouvir tanta besteira, deu vontade de fazer um paredão. Daria até uma chance de escapar: bastava ter lido dois livros, não best sellers, nos últimos anos, mas duvido da eficácia da medida.*
Para terminar, o instrutor. Apesar de muito solícito, seu nome de torturador - Fleury - fez-me questionar a razão de eu estar ali. Fiquei numa baita dúvida entre a geração saúde e o gosto pelo desconhecido e, embora a primeira seja mais coerente com a verdade, prefiro crer que são inocentes fugas da rotina.

*Devo lembrar que os estereótipos são mais uma brincadeira, apesar de ser inegável a existência de tais seres.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Do dia em que a síndica ligou para mim



Coloquei o texto abaixo no elevador do meu prédio após ser comunicada que as secretárias não mais poderiam utilizar o elevador social ou transitar pela referida área. Quando cheguei em casa mais tarde, esperava-me a notícia de que a síndica me ligou para esclarecer os fatos. O resultado foi que todos continuam a transitar pelos mesmos lugares, como deve ser em um país que pretende ser democrático.

Gandhi, na época da luta pela independência da Índia, disse que acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto. Buscando a construção de um mundo justo, sinto-me obrigada a protestar contra um acontecimento dos últimos dias no condomínio e que, por envolver pessoas, é gravíssimo. É bom lembrar que, ao contrário do que a ideologia burguesa gosta de fazer-nos praticar, todos têm os mesmos direitos. Ou será que alguns são mais iguais que outros, como coloca George Orwell?
O fato é que fui surpreendida pela determinação de que as secretárias não mais poderiam passar pela área social por uma decisão do condomínio. Pergunto: quem é o condomínio? Até onde sei, também faço parte dele e não fui consultada sobre tal absurdo.
É comum dizer que no Brasil não existe racismo. Respondam-me, então: tal imposição significa o que? Pode não ser relativo a cor, mas é um apartheid. Sei que, para muitos, ainda deveria existir escravidão e greve deveria ser dissolvida à bala - assim, Lula nunca teria virado presidente -, mas peço que pensem nos ensinamentos cristãos, ou, os materialistas, no senso de justiça. Ao contrário do que se diz, ela não é utopia, mas precisa do comprometimento de cada um para existir. Peço que não deixem o espírito natalino no shopping ou no personagem que encarnam na Igreja. Façam melhor: tragam-no para a vida real.
Lembrem-se de que a vida material é passageira, e de que a única coisa que deixamos é o bem que fizemos aos outros, pois felicidade só é real quando compartilhada.
Um feliz Natal bem indignado.*

*Ironicamente, a determinação aconteceu bem próxima ao Natal.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Notícias de terra (não tão) civilizada

A cada vez que abro um site de notícias, aparece mais sofrimento causado pelo terremoto no Haiti. Se eles podem devastar até países que dispõem de alta tecnologia, imagine o que fazem com um dos nossos mais pobres vizinhos.
Obama disse logo que seu país deveria assumir o papel de líder. Espera-se que não o desempenhe como de costume, pois as consequências não tendem a serem favoráveis. Felizmente, há o comprometimento não apenas textual - já que este é muito fácil, exigindo pouco sacrifício -, mas também econômico, imprescindível para tornar a vida, pelo menos, suportável no país.
Na contra-mão da "corrente do bem", aparecem os grandes conservadores para colocar a culpa no sobrenatural,acusando os haitianos de terem feito um pacto com o diabo, o que acabaria causando a sua miséria. Bem mais conveniente que mostrar como a resposta francesa à descolonização do Haiti teve seu papel fundamental para agravar os problemas.
Enquanto isso, milhares de corpos vão sendo enterrados em vala comum. Provavelmente, muitos eram só corpos mesmo, pois a condição de pessoa foi embora ainda na insalubre vida.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Domingo, família e outros

Praia, sol e almoço em família. O dia tinha tudo para ser mais um domingo comum quando, ao avistar o carro, nota-se um pneu furado. Em uma casa só de mulheres - sem sexismo -, é complicado trocá-lo sem ajuda. Tínhamos, entretanto, um hóspede, que poderia ser a salvação.
Enquanto o borracheiro não chegava - pois era arriscar demais esperar que resolvêssemos o problema -, os entendidos de plantão entraram em ação. Sob olhar atento da mãe, que limitou-se a dizer como o macaco deveria ser utilizado, a filha mais velha lia o manual de instruções, em busca de uma resposta milagrosa, e o convidado, já com as mãos sujas de graxa, ajoelhava-se no asfalto, na tentativa de agilizar o processo. É bom ressaltar, ainda, a atividade das outras duas filhas. Enquanto a caçula procurava um lugar para aliviar-se - porque "tinha bebido muita água na praia" -, a do meio espremia os cravos do rosto dentro do carro, como uma lady que espera resgate.
Após alguns momentos de apreensão, nos quais não se sabia mais o que fazer, chega o redentor borracheiro. Com suas mãos ágeis, concretiza o serviço em cinco minutos, deixando-nos boquiabertos. O que faz o hábito, não é?

sábado, 2 de janeiro de 2010

Alegria fugaz

Juro que tentei fazer um texto saudando o novo ano, num clima de euforia, mas o máximo que consegui foram alguns trocadilhos com a música "semente do amanhã". Por sinal, vergonhosos. Então, é o jeito contentar-se com a única coisa que sei escrever: algumas ácidas linhas.
Sempre fico meio melancólica em finais de ano, vai ver que é a causa da minha antipatia para com o reveillon. No deste ano, ela aumentou infinitas vezes, tanto por conta das atrações para a festa a que fui - na qual só escapavam os antigos integrantes do Legião Urbana -, como pela impossibilidade de comunicação, que quase frustrou a salvação da minha noite.
Há, ainda, as promessas - normalmente esquecidas após as comemorações -, e que vejo com muita desconfiança. Não aceito que só pensemos em renovação uma vez ao ano, enquanto o mundo nos apresenta novos desafios cotidianamente. Pois revoltei! Resolvi que a minha promessa é não tê-la, revendo as atitudes e concepções diariamente, para evitar virar o que mais abomino e acabar vivendo como nossos pais. Na verdade, isso acaba sendo meu grande compromisso, apesar do meu pé atrás com eles.
Um ótimo ano, ainda que um pouco atrasado!

Ah, aos que me acompanharam e gostaram, muito obrigada, espero não perder a mão. Aos que viram e não gostaram, obrigada também, afinal, vocês sabem o que se diz das unanimidades.