domingo, 27 de junho de 2010

Ler devia ser proibido


Peguei-me pensando, ultimamente, em algumas coisas que tiveram um papel fundamental na formação do meu caráter e das minhas convicções, e, sem dúvida alguma, a leitura foi uma parte imprescindível. Claro que os livrinhos que lhe introduzem ao mundo das letras são importantes, mas falo do que realmente dá suporte ao pensamento, do que, de fato, como diz Mário Quintana, muda as pessoas, e as ajuda a mudar o mundo.
Já escutei, em pleno século XXI, pessoas dizendo que "quem lê demais fica meio doido, ateu, subversivo, perigoso". Então, que sejamos realmente perigosos, independentemente do credo ou da sanidade mental, porque, se for pra transformar esse mundo, tem que ser subvertendo.

"E tão bela é a manhã da liberdade que vale a pena morrer por ela, dar a vida pela certeza de que ela vem, que chegará para os homens. Mas, ah!, amiga, morrer é fácil, seja por uma mulher, seja pela liberdade! Difícil é viver uma vida se sofrimento e de luta, sem desanimar e sem desistir, sem se vender, sem se curvar. Mais que a morte, a liberdade pede a vida de cada um, todos os seus momentos, todas as suas forças."
Jorge Amado - Trecho de "O Cavaleiro da Esperança"

terça-feira, 15 de junho de 2010

O dia em que o Brasil parou

Jurei para mim mesma que, nesta Copa, ia tentar ser mais tolerante e internalizar minha falta de apreço pela Seleção Brasileira. O plano vai até indo bem, estou aproveitando que gosto de futebol para acompanhar alguns jogos, mas hoje foi demais. Vou logo deixar claro: o que me incomoda não é o fato da competição em si, mas do que dela decorre. Parece que o mundo pára para viver algo que se transformou em negócio, puro e simples negócio. Tanto é que o que constatei nos jogos que vi - uma boa parte -, foi apelação pra retranca e covardia. Jogo bonito que é bom, pouquíssimo. Sem contar a polêmica por conta da bola, com uma mão toda dos patrocinadores, certamente.
Voltando ao que me fez abrir uma exceção no meu silêncio patriótico: as notícias. Quando fui ver as novidades do mundo após o jogo do Brasil, eis que deparo toda a página repleta de comentários e fatos sobre a Copa, como se o único acontecimento importante fosse esse. Impossível não fazer a conexão com Bourdieu e seu "Sobre a Televisão", no qual ele fala sobre a prioridade que a grande mídia dá ao que não tem tanta relevância assim, nem causa polêmica, os chamados fatos-ônibus, que agregam todo mundo e ocupam o espaço do que realmente informa. Engraçado que bastava descer a barra de rolagem e encontrar notícias sobre o aumento da aposentadoria, sobre a Coréia do Norte ameaçando a ONU e o mundo e sobre o vazamento de petróleo nos EUA. Até onde imagino, qualquer um desses acontecimentos afetaria muito mais a vida de qualquer ser humano que o resultado de uma partida de futebol.
A diversão é fundamental, mas, se vira circo, começa a ser perigosa - e não é um perigo que beneficie a maioria.

sábado, 5 de junho de 2010

Viva o verde!

Dia do Meio Ambiente é um prato cheio para autopromoção de empresas que dizem ter um compromisso com a preservação da natureza. Até acredito, ainda que com muitas desconfianças, que algumas delas tenham o compromisso com o desenvolvimento sustentável e coloquem em prática algumas ações alegadas, mas engolir que todas que propagam suas benesses de fato o façam é pedir demais à minha consciência.
Tiro pela propaganda de um shopping de Fortaleza, construído no meio do mangue, que alega ter plantado toda a área verde existente ao redor. Achando pouco, mais um edifício está sendo concluído. Desta vez, a poucos metros do rio existente. Em uma cidade na qual qualquer chuvinha parece um dilúvio, um empreendimento do tipo será ótimo para agravar a situação caótica das nossas ruas e aumentar os treinamentos de salto em distância por quais os pedestres têm que passar para poder caminhar sem se molhar. Sem falar das outras implicações, porque construções desse porte não acarretam pequenas consequências.
Há, ainda, a moda verde, como se consumir exacerbadamente não fosse uma das formas de contribuir para a poluição, desmatamento e exploração dos recursos naturais. Para tirar eximir o consumidor de qualquer culpa, as lojas oferecem sacolas retornáveis para a pessoa carregar os inúmeros acessórios dispensáveis que está levando, tudo para que o consumidor só se preocupe em comprar, porque, do resto, o sistema cuida. E como está cuidando bem, não?