sexta-feira, 29 de maio de 2009

As flores de plástico não morrem.


Na nossa sociedade capenga, que se preocupa demais com o prazer instantâneo em detrimento da humanidade, há uma preocupação demasiada em não se ferir, levando a um hermetismo emocional. Não se sente o problema do outro, não há interesse em romper a bolha que rodeia a vida de muitos.
Comprando alternativismo na Renner, consciência ambiental com uma Coca-Cola e mantendo relações virtualmente, estamos protegidos. Para que se expor a mais que isso, saindo do perímetro seguro? As ruas são perigosas, os ônibus estão lotados de marginais e não devemos falar com estranhos. Pode ser uma realidade exagerada, orwelliana até, mas é necessário que nos precavamos para não chegarmos até tamanho absurdo.
Recordo-me de uma música dos Titãs que diz: As flores de plástico não morrem. Visto cruamente, seria uma grande vantagem possuí-las, já que somos fascinados pela imortalidade. Devo lembrar, no entanto, que as flores de plástico são artificiais e sem brilho próprio. Qualquer semelhança com muitas pessoas atuais não é mera coincidência.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A gente vai contra a corrente, até não poder resistir.

De vez em quando, vejo-me pensando no conceito de amadurecimento nestes nossos tempos loucos, nos quais parece estar tudo trocado, com o que era virtude virando vício. Devo confessar que não sou afeita a tradições, mas parece que as coisas estão ficando piores. Para quem faz questão de ser diferente, então, é um novo golpe a cada dia.
Parece que fazem questão de nos transformar em pessoas medíocres, iguais a eles, sob a desculpa do amadurecimento. “Você só é assim porque é nova”, “Isso é fase”, “Quero ver essa paixão daqui a alguns anos” são frases recorrentes ao meu cotidiano. Reconheço que é fácil ser de esquerda e ir de encontro aos males do mundo enquanto se é jovem, mas não aceito a descrença no caráter que deve ser enraizado desde cedo. E outra. Atualmente, o padrão é não ter nada na cabeça nem se preocupar com coisa alguma. Então, não é tão simples assim, são pressões de todos os lados.
Não entendo, também, porque tentar podar os sonhos de quem busca uma nova realidade. Soa recalcado, como birra de criança, como se dissessem: “Eu não consegui, você também não vai”. Esquecem-se, então, de quão necessária às pessoas é a justiça, o amor e outras dessas coisas fora de moda.
Para justificar-se perante a sociedade, surge a desculpa pequeno-burguesa do amadurecimento, como se este fosse sinônimo de mediocridade. Para evitar encontrar consigo mesmos, criam a armadura e se eximem de suas contribuições para os rumos da humanidade. Para completar, continuam tentando arrancar brutalmente as esperanças dos que passam por suas vidas, esquecendo-se do efeito contrário que isto pode ter. Após o impacto inicial, interiorizo ainda mais o pacto selado comigo mesma de ser diferente e esfregar na cara deles, mais tarde, que fui contra a corrente quando eles, como já dizia Chico, em Roda Viva, precisaram recorrer à volta do barco, sem sentir o quanto deixaram de cumprir.

sábado, 16 de maio de 2009

Divagações...




"Somos quase livres, e isto é pior do que a prisão". Se pudesse, em uma frase, expor um dos efeitos do vestibular, seria essa. Quase livres por estarmos, teoricamente, fechando o ciclo de maior dependência e vermos a vida se abrir num feroz carrossel. Entretanto, ficamos presos a uma prova que tem o poder de decidir nossos rumos e nos prende de todas as formas. Mutila o conhecimento e nos enche de informação, ficamos abarrotados de experiências teóricas e esquecemos do concreto.
Sabemos o tipo de clorofila presente em cada alga e não conseguimos fazer uma massagem cardíaca que pode salvar uma pessoa. Sabemos o mecanismo de atuação da bomba atômica, mas não nos preocupamos em sanar os problemas que levam a sua aplicação. Sabemos que existem países deploravelmente miseráveis, mas não nos mobilizamos (nem somos incentivados a tal) para melhorar o nosso. Sabemos que a corrupção assola o Brasil desde 1500, mas não temos consciência para protestar seriamente contra ela.
De que nos servirá tudo isso, afinal? Respondo, senhores: Para nada! Chegaremos à Universidade cheios de falsa intelectualidade e com pouca humanidade, típicos homens do Século XXI, no qual compramos a nossa informação em revistas pouquíssimo confiáveis.
Chaplin já nos alertava, desde a época em que o fascismo arrebatava multidões, para o perigo da clausura na era da velocidade. O que escolheremos, portanto? A maioria prefere omitir-se, esquecendo que não escolher já é uma. Então, se iremos fazê-la de qualquer jeito, por que não optar pelo melhor?

P.S.: A fala do quadrinho não é tão importante assim...

Hora do Planeta

Seria mais uma noite de sábado comum se não houvesse aquela aura de esperança e compromisso no ar. Será que as pessoas apagariam realmente as luzes? Qual seria o impacto daquela movimentação? Estávamos envolvidos pelo misto de curiosidade e revolta, de protesto e novidade. Em outras cidades do mundo, a participação foi maciça. Como seria na nossa província esquecida e que gosta de esquecer?
Às oito horas, então, as luzes foram apagadas. Sob o protesto do projeto de pessoa presente, que insistia em ser controlada pelo controle da TV, toda a casa ficou no escuro. À luz de velas, nos acostumamos com a falta de claridade que, por diversas vezes, só nos deixa ver o que ela quer. Dando uma pausa na maré de informações e velocidade que nos cercam, afloramos nossas subjetividades.
Durante o jantar, ainda com pouca iluminação, os mais diversos temas vieram à tona, obrigando-nos (ou obrigando-me, nunca se sabe) a rever conceitos e posições que perpassam a existência. A clareza foi tanta que nos esquecemos de acender as luzes, e a nossa Hora do Planeta durou bem mais que 60 minutos, talvez ainda esteja acontecendo.
Lembramo-nos, ainda, de olhar pela janela e ver quem nos tinha acompanhado. Tivemos a impressão de ver uma luz apagando em outro prédio, enquanto a cidade permanecia acesa. Mas não mais importava, a nossa saída da caverna já tinha começado, só falta incentivarmos muitos outros a quebrar as amarras.