domingo, 30 de agosto de 2009

O eco de suas palavras não repercute em nada



Às voltas com os 20 anos de sua morte, tenho redescoberto Raul Seixas e feito umas constatações, no mínimo, curiosas. Não é segredo para ninguém que o artista tinha algumas idéias de transformação bem sólidas, como a Sociedade Alternativa. O que me intriga é a causa de, apesar de sua popularidade, não conseguir inspirar a força que possuía nos fãs.
Em um cover de Raul ao qual assisti, as pessoas cantavam efusivamente as suas músicas mais profundas, mas não pareciam tentar viver o que elas pregam. Há uma grande figura mundial que dizia que acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto.
Além do cover, havia, no local, um pôster do Che Guevara, personagem mais que midiático. Outro que possui legiões de admiradores que não se espelham, verdadeiramente, nele. Para dar uma idéia da deturpação de ideais pelo qual Che passa, ele é tido como santo no povoado no qual foi morto, tendo direito a velas e orações por parte da população, que nem sonha ser o jovem Ernesto um marxista e materialista.
Talvez, a grande questão envolvendo estas figuras sejam os "grandes feitos" por elas alcançados. Se só a denominação os deixa distantes, quem dirá quando analisados profundamente. Esquece-se, porém, que a mudança começa com quem está ao lado e, nem sempre, para ser importante precisa de grande reconhecimento. Como disse John Lennon, é necessário pensar global e agir local, senão ficaremos, eternamente, convencendo as paredes do quarto e dormindo tranqüilos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Minha esperança é imortal



Em meio a Sarneys e acordões para absolver todo mundo, a esperança leva mais um golpe. São farras das passagens, atos secretos e bravatas éticas que duram até as falcatruas do seu emissor serem descobertas também, pois, a partir daí, a idéia é a de que todos merecem a salvação.
Sou uma lulista assumida, mas não é por isso que acho que todos na base aliada sejam bons meninos bem intencionados, dos quais o inferno está cheio. Creio, sim, que as investigações têm que serem mantidas e os culpados condenados porque, enquanto o Sr. Sarney está protegendo a sua mansão, os maranhenses são os mais pobres do país. A pergunta que não quer calar é: por que não investir este dinheiro gasto em segurança para educar as crianças e evitar sua marginalização? Isso já não é mais egoísmo. É mesquinhez mesmo.
Do outro lado, o senador Arthur Virgílio, subitamente, deixou de incitar as punições ao presidente da Casa. Será que tem a ver com o fato de ele também ter as mãos sujas? A bancada dos "éticos", coincidentemente formada pela atual oposição que vendeu o Brasil, calou-se. Deram-se conta de que estão no mesmo barco do acusado, talvez?
São fatos assustadores e desestimuladores, reconheço. Mas, por isto mesmo, é mais uma chance para enxergarmos a necessidade de ser e fazer diferente, de ter um ideal e lutar por ele, afinal, ficar só no sonho não é suficiente. Só posso terminar com um trecho de um dos meus textos preferidos:

"Dirão: É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!"


Um bom qualquer coisa, com doses imensas de indignação.

Para quem quiser continuar tentando mudar o final: Campanha Ficha Limpa

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Panis et circenses

Não posso dizer que as últimas edições dos maiores telejornais do país tenham-me desapontado. Apesar de saber da indelicadeza e falta de ética das quais a Rede Globo e a Rede Record usaram para trocarem acusações, não posso deixar de curtir a queima do circo, literalmente, no nosso país.
A Rede Globo, com toda a sua aura de defensora da moralidade, não perdeu a chance de dar um cutucão na principal, ainda que distante, concorrente ao noticiar com destaque a investigação que ronda a Igreja Universal. Tudo bem que os Procuradores só estão mostrando o que todo mundo já sabia, que o dinheiro do dízimo não ia bem para as obras sociais, mas o peso dessas acusações é outro quando veiculadas no Jornal Nacional.
Edir Macedo, digo, a Record, não perdeu tempo e, em sua defesa, resgatou todo o passado sujo da Globo. Certas contradições são muito curiosas... Uma delas é que uma grande corporação televisiva que passou muito tempo lambendo as botas da ditadura e tentando influenciar o resultado de eleições queira atacar a outra que, não de modo mais lícito, ganhou a dimensão atual à sombra da Igreja Universal.
O fato é que ainda houve espaço para uma propaganda ufanista das maravilhas da IURD, mostrando projetos sociais, templos e - pasmem! - um jatinho dito essencial para os pastores. O que mais me incomoda nisso tudo é que tem gente que realmente acredita e tira o pouco que tem para dar a um milionário aproveitador. Religião é um assunto complicado e um negócio também.
À sociedade civil, resta acompanhar o desenrolar da novela e ver os podres das duas gigantes do pão e circo em horário nobre. Espero que sirva para que o povo brasileiro desligue a televisão por um bom tempo, pelo menos enquanto dura sua (curta) memória.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Odeio muito tudo isso!


Passando pelos sites de notícia, deparei uma que despertou a minha atenção e, de certa forma, deixou-me de alma lavada: um dos Mc Donald's teve que pagar indenização a vítimas de um golpe aplicado pelos funcionários da lanchonete.
Não consigo encontrar a injustiça em uma grande corporação arcar com os prejuízos causados pelos mais explorados e responsáveis pelo seu funcionamento, os funcionários. Como já dizia o ditado, ladrão que rouba ladrão... Imagine, então, um ladrão que contribui para a péssima alimentação mundial, desmatamento da Amazônia e ainda finge ser altruísta.
Uma olhada além do sanduíche que está prestes a ser consumido pode revelar mais do que o simpático palhaço quer passar. Nas fardas, por exemplo, não há bolsos. Desta forma, toda a gorjeta recebida termina no caixa. Para não falar na pressão pela padronização e exatidão dos lanches e na jornada de trabalho exaustiva.
É comum condenar o ladrão, sem uma investigação do que o levou a roubar. Claro que tal julgamento depende da conta bancária do transgressor, mas falo de ladrões de galinhas como os referidos golpistas. Em circunstâncias como estas, entretanto, só tenho pena dos agora ex-funcionários que sabotaram o sistema, ainda que inconscientemente, e serão punidos por isto.