sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Da academia (de ginástica!)



Já passei por alguns episódios que me renderam eternas piadas feitas pelos amigos. Depois de um 3º ano no qual me engajei ainda mais no movimento sedentário - passando grande parte do dia sentada -, resolvi encarar o, provavelmente, mais aventureiro deles: a academia.
Com uma forcinha do resultado não muito positivo de alguns exames, resolvi que ir-me-ia perder na selva de pedra, e fui fazer a matrícula com a minha cara de quem nunca pisou numa esteira. Para não ter mais opção, paguei logo o ano inteiro.
Trajando um uniforme dos jogos da escola e all star, o contraste com meus colegas - imersos em animadas conversas sobre raves, corpo perfeito e competições de quem aguenta mais peso - era notório. Devo confessar que, ao ouvir tanta besteira, deu vontade de fazer um paredão. Daria até uma chance de escapar: bastava ter lido dois livros, não best sellers, nos últimos anos, mas duvido da eficácia da medida.*
Para terminar, o instrutor. Apesar de muito solícito, seu nome de torturador - Fleury - fez-me questionar a razão de eu estar ali. Fiquei numa baita dúvida entre a geração saúde e o gosto pelo desconhecido e, embora a primeira seja mais coerente com a verdade, prefiro crer que são inocentes fugas da rotina.

*Devo lembrar que os estereótipos são mais uma brincadeira, apesar de ser inegável a existência de tais seres.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Do dia em que a síndica ligou para mim



Coloquei o texto abaixo no elevador do meu prédio após ser comunicada que as secretárias não mais poderiam utilizar o elevador social ou transitar pela referida área. Quando cheguei em casa mais tarde, esperava-me a notícia de que a síndica me ligou para esclarecer os fatos. O resultado foi que todos continuam a transitar pelos mesmos lugares, como deve ser em um país que pretende ser democrático.

Gandhi, na época da luta pela independência da Índia, disse que acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto. Buscando a construção de um mundo justo, sinto-me obrigada a protestar contra um acontecimento dos últimos dias no condomínio e que, por envolver pessoas, é gravíssimo. É bom lembrar que, ao contrário do que a ideologia burguesa gosta de fazer-nos praticar, todos têm os mesmos direitos. Ou será que alguns são mais iguais que outros, como coloca George Orwell?
O fato é que fui surpreendida pela determinação de que as secretárias não mais poderiam passar pela área social por uma decisão do condomínio. Pergunto: quem é o condomínio? Até onde sei, também faço parte dele e não fui consultada sobre tal absurdo.
É comum dizer que no Brasil não existe racismo. Respondam-me, então: tal imposição significa o que? Pode não ser relativo a cor, mas é um apartheid. Sei que, para muitos, ainda deveria existir escravidão e greve deveria ser dissolvida à bala - assim, Lula nunca teria virado presidente -, mas peço que pensem nos ensinamentos cristãos, ou, os materialistas, no senso de justiça. Ao contrário do que se diz, ela não é utopia, mas precisa do comprometimento de cada um para existir. Peço que não deixem o espírito natalino no shopping ou no personagem que encarnam na Igreja. Façam melhor: tragam-no para a vida real.
Lembrem-se de que a vida material é passageira, e de que a única coisa que deixamos é o bem que fizemos aos outros, pois felicidade só é real quando compartilhada.
Um feliz Natal bem indignado.*

*Ironicamente, a determinação aconteceu bem próxima ao Natal.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Notícias de terra (não tão) civilizada

A cada vez que abro um site de notícias, aparece mais sofrimento causado pelo terremoto no Haiti. Se eles podem devastar até países que dispõem de alta tecnologia, imagine o que fazem com um dos nossos mais pobres vizinhos.
Obama disse logo que seu país deveria assumir o papel de líder. Espera-se que não o desempenhe como de costume, pois as consequências não tendem a serem favoráveis. Felizmente, há o comprometimento não apenas textual - já que este é muito fácil, exigindo pouco sacrifício -, mas também econômico, imprescindível para tornar a vida, pelo menos, suportável no país.
Na contra-mão da "corrente do bem", aparecem os grandes conservadores para colocar a culpa no sobrenatural,acusando os haitianos de terem feito um pacto com o diabo, o que acabaria causando a sua miséria. Bem mais conveniente que mostrar como a resposta francesa à descolonização do Haiti teve seu papel fundamental para agravar os problemas.
Enquanto isso, milhares de corpos vão sendo enterrados em vala comum. Provavelmente, muitos eram só corpos mesmo, pois a condição de pessoa foi embora ainda na insalubre vida.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Domingo, família e outros

Praia, sol e almoço em família. O dia tinha tudo para ser mais um domingo comum quando, ao avistar o carro, nota-se um pneu furado. Em uma casa só de mulheres - sem sexismo -, é complicado trocá-lo sem ajuda. Tínhamos, entretanto, um hóspede, que poderia ser a salvação.
Enquanto o borracheiro não chegava - pois era arriscar demais esperar que resolvêssemos o problema -, os entendidos de plantão entraram em ação. Sob olhar atento da mãe, que limitou-se a dizer como o macaco deveria ser utilizado, a filha mais velha lia o manual de instruções, em busca de uma resposta milagrosa, e o convidado, já com as mãos sujas de graxa, ajoelhava-se no asfalto, na tentativa de agilizar o processo. É bom ressaltar, ainda, a atividade das outras duas filhas. Enquanto a caçula procurava um lugar para aliviar-se - porque "tinha bebido muita água na praia" -, a do meio espremia os cravos do rosto dentro do carro, como uma lady que espera resgate.
Após alguns momentos de apreensão, nos quais não se sabia mais o que fazer, chega o redentor borracheiro. Com suas mãos ágeis, concretiza o serviço em cinco minutos, deixando-nos boquiabertos. O que faz o hábito, não é?

sábado, 2 de janeiro de 2010

Alegria fugaz

Juro que tentei fazer um texto saudando o novo ano, num clima de euforia, mas o máximo que consegui foram alguns trocadilhos com a música "semente do amanhã". Por sinal, vergonhosos. Então, é o jeito contentar-se com a única coisa que sei escrever: algumas ácidas linhas.
Sempre fico meio melancólica em finais de ano, vai ver que é a causa da minha antipatia para com o reveillon. No deste ano, ela aumentou infinitas vezes, tanto por conta das atrações para a festa a que fui - na qual só escapavam os antigos integrantes do Legião Urbana -, como pela impossibilidade de comunicação, que quase frustrou a salvação da minha noite.
Há, ainda, as promessas - normalmente esquecidas após as comemorações -, e que vejo com muita desconfiança. Não aceito que só pensemos em renovação uma vez ao ano, enquanto o mundo nos apresenta novos desafios cotidianamente. Pois revoltei! Resolvi que a minha promessa é não tê-la, revendo as atitudes e concepções diariamente, para evitar virar o que mais abomino e acabar vivendo como nossos pais. Na verdade, isso acaba sendo meu grande compromisso, apesar do meu pé atrás com eles.
Um ótimo ano, ainda que um pouco atrasado!

Ah, aos que me acompanharam e gostaram, muito obrigada, espero não perder a mão. Aos que viram e não gostaram, obrigada também, afinal, vocês sabem o que se diz das unanimidades.