domingo, 28 de fevereiro de 2010

Arruda ressentido. Quem perguntou como se sente o cidadão?

Não sei nem dizer se realmente fiquei abismada, mas não posso negar a surpresa ao ler que o ex-Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, se disse ressentido devido aos últimos acontecimentos. Parece um teste para ver até quando ainda é possível brincar com a população impunemente.
As imagens - e o passado do político - não negam que ele merece a cadeia, e Arruda ainda tem a cara-de-pau de inventar chateação. A única razão pela qual seu aborrecimento seria aceitável é o fato de o Brasil ser um país onde trapacear e tirar vantagem são atividades encaradas com normalidade e ele teve o azar de ser flagrado cometendo o crime. E uma medida mais exótica ainda: a lei está sendo, até agora, cumprida. Certamente, o ex-Governador vislumbrava um acordão para salvar o pescoço, o que se mostrou uma ilusão. Só espero que, daqui a alguns dias, não haja motivo para ele caçoar da sociedade que o julgava impotente.
A afirmação de Arruda fez-me, ainda, levantar outra questão: se ele, com todas as mordomias das quais dispunha - tudo pago pela população -, acha-se no direito de reclamar de algo, imagine o cidadão comum, que paga seus impostos sem receber nada em troca, que encara uma jornada de trabalho exaustiva por um salário mínimo. Sorte dos poderosos que a tensão social no país é pequena - sem mencionar o grau de reflexão crítica das pessoas -, senão, estaríamos vivendo em um barril de pólvora. E motivos para sua explosão não faltam.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una

Estava em um bar, durante o Carnaval, em que tocava Raul Seixas e oferecia sinuca para os clientes, quando uma amiga comentou comigo a cena a que tinha acabado de assistir: uma família bem convencional passava pelo local, com os vidros do carro fechados, claro. De repente, o filho olha para dentro do "antro de perdição" e o pai dá-lhe um tapinha nas costas, como quem o manda ficar longe daquilo.
Cada um tem o direito de ir aonde quiser, de frequentar os lugares que desejar - e vai-se criando uma população que só conhece o próprio umbigo -, mas que se mantenha, ao menos, a coerência. Duvido que esse pai de família nunca tenha estado em ambientes como o que agora quer afastar. Vai ver que é o mesmo rapaz que, há alguns anos, fumava maconha porque todo mundo o fazia.
Não quero dizer que as posições não possam ser revistas, mas sem falso moralismo. Uma violência muito maior que contemplar a vida boêmia é a frieza cotidiana, por exemplo. Presenciar o pai pensando em cianureto - e a mãe sonhando com formicida - é bem mais traumatizante que o contato com a vida real. O preocupante é que o atual filho terá sua família daqui a alguns anos, quiçá, carregando os mesmos vícios - constantemente, encarados como virtudes -.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Inteligência ficou cega de tanta informação

Estava procurando um pretexto para escrever sobre o assunto, quando minha irmã pequena e meu primo me disseram que eu sabia tudo, afinal, terminara o 3º ano. Inocências infantis à parte - já que eles não têm noção do que lhes aguarda -, a afirmação serviu para lembrar quanta inutilidade ganhei no ano passado.
Deixando de lado a parte afetiva, que se desenvolveu imensamente no calor das emoções, posso contar nos dedos o conhecimento adquirido nesse finalzinho de escola. Até consegui entender melhor algumas situações, embora que a maioria seja as que merecem combate cotidiano.
Compreendi como é fácil crescer e ir-se acomodando. A receita é simples: chega-se à casa esgotado ou esgotada de tantas atribuições e a única coisa que se deseja é uma cama e uma televisão, nada que exija reflexão. Como trabalha-se para possuir confortos que nem são utilizados, pois não dá tempo, entra-se no ciclo trabalhar-para-descansar, que parece começar antes, no se-matar-para-passar. E, a partir daí, vem o status, os parabéns, o primeiro emprego e as obrigações pequeno-burguesas. Como diz um entrevistado em um documentário ao qual acabei de assistir - Surplus -, protestar e tentar mudar algo não é sem sentido. Sem sentido é ficar sentado, usando drogas, assistindo a MTV, arranjar um emprego e se submeter. Isto é violência.
Apesar de não ter dividido as questões que as crianças me trouxeram com elas, percebi que, ao contrário do que imaginam, não devo saber muito mais que antes, pois é complicado desenvolver a mente ao privar-se de excelentes leituras e filmes durante o ano. Vai ver que é este o objetivo: atrofiamos tanto que esquecemos até nossas convicções, perpetuando o mundo de sempre, deixando os sonhos em vidas passadas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CHII-CLEE-TE!

É incrível como as músicas de qualidade duvidosa pregam na cabeça com uma facilidade imensa. Basta escutá-las na rua uma vez para que elas passem o dia ressoando, enquanto você tenta concentrar-se, ou, simplesmente, ficar em silêncio, ainda que internamente.
O que mais me espanta nelas, no entanto, não é a capacidade de se fazer memorizar, mas as letras sem conteúdo algum. "Eu quero mais é beijar na boca", "Paz, Carnaval, futebol: não mata, não engorda e não faz mal", "Encosta n'eu, dá um cheiro n'eu", pérolas da poesia, ficam sendo repetidas como mantras, lembrando-me as lavagens cerebrais de "Admirável Mundo Novo".
Em uma sociedade vazia, elas reproduzem a mentalidade da população, preocupada apenas com o prazer a qualquer preço - que saudades dos epicuristas e seu hedonismo inteligente - e com o placar do jogo de domingo. Pior ainda, condicionam-na a crer que estão vendo tudo o que existe, servindo para conformá-la e controlá-la.
É necessária, portanto, uma reeducação - até ideológica -, pois não há avanço sem confronto com a realidade. Se as músicas da moda não mais agradáveis, poucas delas acrescentam algo ao ouvinte. Que falta fazem os Festivais de Música que representavam toda a resistência e força de uma geração. O problema é que, talvez, o que falte não seja os Festivais, e sim, a resistência.