quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

All WE need is love!


Então - quase - é Natal, não sei se uma festa tão cristã assim. O que vejo é a cidade enlouquecendo por causa das compras. As filas das lojas são intermináveis e a lista de preparativos materiais é imensa. Assim, dá até para esquecer-se de renovar e confirmar valores, talvez o mais importante a ser feito na data.
Os paraísos do consumo, também conhecidos por shoppings, ficam lotados de pessoas - apesar de eu não saber até que ponto esses seres ainda podem ser chamados assim - e as crianças piram para conseguir uma foto com o Papai Noel, que acabou substituindo o aniversariante, pois, muitas vezes, só o bom velhinho é convidado para a festa.
Estava na fila de uma dessas lojas e comecei a notar como o espírito natalino toma conta das pessoas: umas senhoras viram algumas revistas de fofoca e, quase que automaticamente, começaram a falar mal da estrela da capa. Bem em acordo com os ensinamentos do sistema, já que, para ele, basta presentear os conhecidos e familiares que o Natal está feito, ainda que o individualismo costumeiro permaneça. Para a consciência ficar mais tranquila, pode-se dar uns trocados ao pedinte esfomeado.
É claro que é agradável ser presenteado, mas o ato mecânico tira toda a beleza do gesto, pois se dá um presente a alguém por ter-se lembrado dele ao ver o objeto, não porque é tradição. Ao invés disso, o tempo gasto no consumo deveria ser utilizado para reflexão e revisão das ações, pois, por mais religioso que se seja, é inegável que a humanidade clama pela intervenção dos indivíduos, e amar - de fato - uns aos outros é imprescindível para a construção de uma sociedade justa.
Um feliz Natal, sem ho-ho-ho.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Copenhague e sua (falta de) consequência



As notícias da Conferência de Copenhague, a pretensa salvadora do mundo, fariam-me rir se o caso não fosse tão sério. Os grandes líderes mundiais fingem que vão defender a causa ambiental e o resto do planeta finge acreditar que dará resultado. Não que todos estejam comprometidos com o setor industrial, mas a maioria nem tenta camuflar os seus interesses.
Os impasses começam logo quando se fala em dinheiro. Os maiores poluidores, com suas economias proporcionais às emissões de gás carbônico, recusam-se a pagar a conta e tentam, de todas as formas, aumentar a tolerância à emissão dos poluentes. O mundo subdesenvolvido, por sua vez, também não aceita as taxas propostas, com o fundamentado receio de terem seu crescimento estancado, já que os emergentes começam a ameaçar as potências não mais tão hegemônicas. A fiscalização do fundo verde - para ajudar os países pobres a lidar com a mudança climática - pode ser uma ameaça à soberania deles, ajudando a justificar mais um desentendimento.
Como ninguém quer ceder, a reunião terminou desacreditada, já que o acordo ficou para 2010. Para completar, ainda houve a declaração de Sarah Palin - que nem na conferência estava - a Obama, dizendo que o presidente deveria resistir às pressões e salvar o emprego dos estadunidenses. Provavelmente, às custas do resto do mundo, como de praxe.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A gente não quer só comida!


Em Junho de 2008, nossos recreios foram tomados por um sentimento de reivindicação. Durante uma semana, nós, alunos do Santa Cecília, organizamos um piquenique como forma de resposta aos abusivos preços da cantina. Na época, escrevi o texto abaixo no blog do Diga Lá!, e, pelo carinho que tenho àqueles dias, republico-o aqui com muito prazer:

Como dizia Renato Russo, "Quem me dera, ao menos uma vez, acreditar por um instante em tudo que existe. Acreditar que o mundo é perfeito, que todas as pessoas são felizes.". Infelizmente, isso não existe e não podemos ficar presos a uma ilusão enquanto a vida passa pela nossa frente sem que façamos nada, sem que lutemos por nada. Nossos direitos estão constantemente sendo desrespeitados e, normalmente, nem nos damos conta disso, deixando as situações passarem sem dar a devida importância. De vez em quando, entretanto, acordamos e vemos que há uma alternativa, há como fazer uma mudança. E essa mudança só será alcançada pela mobilização, pela união, seja de pessoas, idéias ou ações.
Estimulados por isso, os alunos do Santa Cecília começaram nesta segunda-feira, 2 de Junho, um piquenique como forma de protesto pacífico contra os altos preços da lanchonete Top's, que detém o monopólio do comércio de alimentos dentro do colégio. O intuito da manifestação não é agredir nem afrontar, é apenas exercer o nosso direito de consumidor insatisfeito. Claro que sabemos da alta dos preços, da inflação, não somos filhinhos de papai desinformados - como somos taxados indiretamente no banner da citada lanchonete -, o que não justifica é um preço exorbitante para uma cantina de colégio.
Além de protestar contra os preços, o piquenique é uma forma de pôr em prática um dos mais importantes ensinamentos Cristãos, a repartição do pão com o próximo, além de nos deixar mais unidos, já que acabamos nos socializando com pessoas novas, criando um espírito coletivo no colégio, desenvolvendo mais um dos tantos valores em falta na nossa sociedade. Cada um traz a sua contribuição e, no final, temos várias toalhas fartas. Há até quem diga que a comida aparece magicamente, porque quando você acha que acabou, ainda tem à disposição. É o milagre da multiplicação dos pães e a força da coletividade, pois, levando um pacote de biscoito, por exemplo, você tem um lanche bem mais farto que o normal, além de mais dinâmico e animado.
Para terminar, queria propor a continuação do "boicote" mesmo que internamente, uma absorção do manifesto, a conscientização começa por aí. Eu não sou nenhuma mocinha alienada, e você? Venha, se engaje no nosso piquenique!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Memórias de uma tragédia anunciada



Achei, nos últimos dias, a edição do debate de 89, entre Collor e Lula, e também a versão completa, a qual ainda não assisti toda. Porém, se teve algo que pude constatar, foi quanto empenho houve para favorecer o "caçador de marajás".
A manipulação começa na primeira pergunta, na qual a Globo não deixa Lula dar nem "boa noite", enquanto Collor, na sua postura demagógica, coloca logo a família cristã na sua fala, incorporando o "homem de bem" ao seu discurso, um dos seres que mais temo. Justifico: tenho a impressão de que, em nome da proteção - eufemismo para individualismo -, ele é capaz de apoiar um golpe. Ou será que o golpe militar só teve suporte nos quartéis?
Mais adiante, Collor solta absurdos sobre o adversário, do tipo o PT ser nazista e pretender colocar pessoas desconhecidas dentro da sua casa. Antes, no entanto, acusara o então sindicalista de marxista, caindo em contradição. De fato, posição ideológica nunca foi o forte no Brasil... Não vou comentar mais nada, porque tira a graça. O interessante é ir assistindo e vendo como um debate pode virar piada. Uma piada que custou muito caro ao país.
O que me deixou mais perplexa, entretanto, foi como a população foi enganada com facilidade. Tudo bem que a edição tem sua parcela de culpa, mas se não fosse tão simples manipular a opinião pública, o resultado o pleito poderia ter sido outro. Só que, como já dizia Brecht, o pior analfabeto é o analfabeto político. E deles, estamos cheios.