quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

All WE need is love!


Então - quase - é Natal, não sei se uma festa tão cristã assim. O que vejo é a cidade enlouquecendo por causa das compras. As filas das lojas são intermináveis e a lista de preparativos materiais é imensa. Assim, dá até para esquecer-se de renovar e confirmar valores, talvez o mais importante a ser feito na data.
Os paraísos do consumo, também conhecidos por shoppings, ficam lotados de pessoas - apesar de eu não saber até que ponto esses seres ainda podem ser chamados assim - e as crianças piram para conseguir uma foto com o Papai Noel, que acabou substituindo o aniversariante, pois, muitas vezes, só o bom velhinho é convidado para a festa.
Estava na fila de uma dessas lojas e comecei a notar como o espírito natalino toma conta das pessoas: umas senhoras viram algumas revistas de fofoca e, quase que automaticamente, começaram a falar mal da estrela da capa. Bem em acordo com os ensinamentos do sistema, já que, para ele, basta presentear os conhecidos e familiares que o Natal está feito, ainda que o individualismo costumeiro permaneça. Para a consciência ficar mais tranquila, pode-se dar uns trocados ao pedinte esfomeado.
É claro que é agradável ser presenteado, mas o ato mecânico tira toda a beleza do gesto, pois se dá um presente a alguém por ter-se lembrado dele ao ver o objeto, não porque é tradição. Ao invés disso, o tempo gasto no consumo deveria ser utilizado para reflexão e revisão das ações, pois, por mais religioso que se seja, é inegável que a humanidade clama pela intervenção dos indivíduos, e amar - de fato - uns aos outros é imprescindível para a construção de uma sociedade justa.
Um feliz Natal, sem ho-ho-ho.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Copenhague e sua (falta de) consequência



As notícias da Conferência de Copenhague, a pretensa salvadora do mundo, fariam-me rir se o caso não fosse tão sério. Os grandes líderes mundiais fingem que vão defender a causa ambiental e o resto do planeta finge acreditar que dará resultado. Não que todos estejam comprometidos com o setor industrial, mas a maioria nem tenta camuflar os seus interesses.
Os impasses começam logo quando se fala em dinheiro. Os maiores poluidores, com suas economias proporcionais às emissões de gás carbônico, recusam-se a pagar a conta e tentam, de todas as formas, aumentar a tolerância à emissão dos poluentes. O mundo subdesenvolvido, por sua vez, também não aceita as taxas propostas, com o fundamentado receio de terem seu crescimento estancado, já que os emergentes começam a ameaçar as potências não mais tão hegemônicas. A fiscalização do fundo verde - para ajudar os países pobres a lidar com a mudança climática - pode ser uma ameaça à soberania deles, ajudando a justificar mais um desentendimento.
Como ninguém quer ceder, a reunião terminou desacreditada, já que o acordo ficou para 2010. Para completar, ainda houve a declaração de Sarah Palin - que nem na conferência estava - a Obama, dizendo que o presidente deveria resistir às pressões e salvar o emprego dos estadunidenses. Provavelmente, às custas do resto do mundo, como de praxe.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A gente não quer só comida!


Em Junho de 2008, nossos recreios foram tomados por um sentimento de reivindicação. Durante uma semana, nós, alunos do Santa Cecília, organizamos um piquenique como forma de resposta aos abusivos preços da cantina. Na época, escrevi o texto abaixo no blog do Diga Lá!, e, pelo carinho que tenho àqueles dias, republico-o aqui com muito prazer:

Como dizia Renato Russo, "Quem me dera, ao menos uma vez, acreditar por um instante em tudo que existe. Acreditar que o mundo é perfeito, que todas as pessoas são felizes.". Infelizmente, isso não existe e não podemos ficar presos a uma ilusão enquanto a vida passa pela nossa frente sem que façamos nada, sem que lutemos por nada. Nossos direitos estão constantemente sendo desrespeitados e, normalmente, nem nos damos conta disso, deixando as situações passarem sem dar a devida importância. De vez em quando, entretanto, acordamos e vemos que há uma alternativa, há como fazer uma mudança. E essa mudança só será alcançada pela mobilização, pela união, seja de pessoas, idéias ou ações.
Estimulados por isso, os alunos do Santa Cecília começaram nesta segunda-feira, 2 de Junho, um piquenique como forma de protesto pacífico contra os altos preços da lanchonete Top's, que detém o monopólio do comércio de alimentos dentro do colégio. O intuito da manifestação não é agredir nem afrontar, é apenas exercer o nosso direito de consumidor insatisfeito. Claro que sabemos da alta dos preços, da inflação, não somos filhinhos de papai desinformados - como somos taxados indiretamente no banner da citada lanchonete -, o que não justifica é um preço exorbitante para uma cantina de colégio.
Além de protestar contra os preços, o piquenique é uma forma de pôr em prática um dos mais importantes ensinamentos Cristãos, a repartição do pão com o próximo, além de nos deixar mais unidos, já que acabamos nos socializando com pessoas novas, criando um espírito coletivo no colégio, desenvolvendo mais um dos tantos valores em falta na nossa sociedade. Cada um traz a sua contribuição e, no final, temos várias toalhas fartas. Há até quem diga que a comida aparece magicamente, porque quando você acha que acabou, ainda tem à disposição. É o milagre da multiplicação dos pães e a força da coletividade, pois, levando um pacote de biscoito, por exemplo, você tem um lanche bem mais farto que o normal, além de mais dinâmico e animado.
Para terminar, queria propor a continuação do "boicote" mesmo que internamente, uma absorção do manifesto, a conscientização começa por aí. Eu não sou nenhuma mocinha alienada, e você? Venha, se engaje no nosso piquenique!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Memórias de uma tragédia anunciada



Achei, nos últimos dias, a edição do debate de 89, entre Collor e Lula, e também a versão completa, a qual ainda não assisti toda. Porém, se teve algo que pude constatar, foi quanto empenho houve para favorecer o "caçador de marajás".
A manipulação começa na primeira pergunta, na qual a Globo não deixa Lula dar nem "boa noite", enquanto Collor, na sua postura demagógica, coloca logo a família cristã na sua fala, incorporando o "homem de bem" ao seu discurso, um dos seres que mais temo. Justifico: tenho a impressão de que, em nome da proteção - eufemismo para individualismo -, ele é capaz de apoiar um golpe. Ou será que o golpe militar só teve suporte nos quartéis?
Mais adiante, Collor solta absurdos sobre o adversário, do tipo o PT ser nazista e pretender colocar pessoas desconhecidas dentro da sua casa. Antes, no entanto, acusara o então sindicalista de marxista, caindo em contradição. De fato, posição ideológica nunca foi o forte no Brasil... Não vou comentar mais nada, porque tira a graça. O interessante é ir assistindo e vendo como um debate pode virar piada. Uma piada que custou muito caro ao país.
O que me deixou mais perplexa, entretanto, foi como a população foi enganada com facilidade. Tudo bem que a edição tem sua parcela de culpa, mas se não fosse tão simples manipular a opinião pública, o resultado o pleito poderia ter sido outro. Só que, como já dizia Brecht, o pior analfabeto é o analfabeto político. E deles, estamos cheios.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Todo mundo é eterno

Passeando pela internet, deparo uma festa de declarações de amor, amizade e sentimentos do gênero para pessoas conhecidas há uma semana. Não que eu ache impossível criar um forte vínculo com alguém em pouco tempo, só que é demais para minha inteligência acreditar que se faz isso tão constantemente.
Talvez pela minha reserva, limitando até as demonstrações públicas de afeto, não entendo como se pode "amar" tanta gente em tão pouco tempo. Até compreendo os pré-adolescentes, já que eles necessitam afirmar-se, mas pessoas, teoricamente, maduras com tais atitudes é um pouco estranho.
Tenho a sensação de que, quanto mais esse carinho todo é externado virtualmente, menos ele é realmente sentido. Uma das desvantagens da era digital é afastar as pessoas dando a impressão de que elas estão próximas, e os mais novos já nasceram imersos em tudo isso, encarando a distância com normalidade, afinal, não conhecem algo diferente.
Temo que terminemos presos a uma cadeira e escravos do controle remoto, sem saber o que é um abraço, se não o emoticon do MSN.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A minha alma tá armada



Quando penso que já inventaram todo tipo de propaganda, algumas chegando a ser nojentas, eis que escuto no rádio uma que, se não supera as piores conhecidas por mim, chega perto. Começa com uma música falando em casa com varanda, até que a suave melodia é cortada por uma mulher falando que aquilo é lindo na ilusão, mas impossível na vida real, por isso, sua moradia necessita dos mil apetrechos de "segurança" oferecidos. O pior, nem poetizar o cotidiano é permitido, porque a verdade cruel vai e lhe arranca do devaneio.
Em vez de a sociedade tornar-se mais segura porque está evoluindo, o importante parece ser que seu espaço esteja protegido de uma invasão dos menos favorecidos. Justiça? Esta é uma utopia que só existe na cabeça dos idealistas, românticos e desocupados. E, de fato, que grande contra-senso é preocupar-se com a pessoa ao lado quando um muro de 5 metros de altura separa a realidade dela da sua.
Às voltas com o aniversário da queda do Muro de Berlim, uma das lições que pode ser tirada dela é que, para que os paredões sejam desnecessários e as cercas elétricas dispensadas, é preciso, primeiro, demolir a murada mental que tapa a visão de muitos.

domingo, 1 de novembro de 2009

Vida inteligente(?)


Acabei de assistir ao novo filme do circuito comercial que traz a vida alienígena como foco. Ao contrário do lugar comum, que sempre esbarra nas idéias prontas, Distrito 9 faz críticas interessantíssimas, a começar pelo lugar onde se passa, na África do Sul.
A primeira delas é que os aliens, ao invés de invadirem a Terra, têm sua nave "explorada" pelos humanos, naquele modelo bem conhecido, sem pedir a menor licença. Como os extraterrestres estão subnutridos, a benevolente humanidade os resgata e os joga em um espaço militarizado que, futuramente, formará uma favela, submetendo-os a todo tipo de abuso. Alguma relação com a política intervencionista das grandes potências?
Outro ponto curioso é o tratamento dado a eles que, mesmo confinados e com péssimas condições de vida, ainda são tratados como culpados quando se revoltam. Sou obrigada a lembrar da nossa grande mídia que, com toda a sua alegada imparcialidade, comunga com os privilégios dos poderosos e estes, contando com tal apoio, só administram a situação. E o pior, parece que levantar a voz contra isso é coisa de outro mundo.

"Os grandes só são grandes porque estamos de joelhos. Levantemo-nos."

sábado, 24 de outubro de 2009

Peixe fora d'água.


Eu adoro festas, mas só de pensar nos preparativos - apertar o vestido, comprar o sapato, ir ao salão - sinto uma preguiça enorme. Sem contar que sou alvo de piadas por parte dos amigos desde a semana anterior por causa do meu jeito, digamos assim, diferente.
A odisseia começa na compra do vestido. Lá vou eu, de calça jeans, camiseta e chinela, atrás do meu vestido passeio completo. Não sei por que, mas tenho a impressão de que quando a vendedora coloca o salto 15 cm para completar o traje, é só para ter certeza de que meu mundo é outro.
Concluída a primeira parte, é hora de comprar o sapato, que não pode ser muito alto, afinal, o plano é passar a noite calçada. Não sei qual a dificuldade das atendentes em falar logo que não têm o que procuro. Deve ser uma vaga esperança de que vou mudar de ideia ao ver o mais novo lançamento da marca. Mal sabem elas que aí é que repugno o referido objeto. Depois de muito andar, no entanto, encontro o famigerado calçado.
Para encerrar, o salão de beleza, um capítulo à parte. Não tem coisa que odeie mais que acordar cedo, principalmente no fim de semana. E, normalmente, inventam uma coisa pra eu fazer durante a manhã - sim, meu cedo é a manhã inteira -, nem que seja dar uma viagem perdida. Eu devo ser a antipática de todos os cabeleireiros que já frequentei, pois não sou de puxar assunto ou ficar conversando horas e horas enquanto tiram a minha sobrancelha. Sou adepta do MP3 e do livro, ao invés da televisão e das revistas tão construtivas disponíveis.
Mas o que mais me intriga é a capacidade que algumas pessoas têm de contar a vida toda a qualquer estranho. É exposição demais para mim. Ah, também não há perigo de sair do salão sem um pitaco sobre o meu cabelo levemente hippie. A síntese das opiniões é: alisamento. Parece que é pecado não querer ser Barbie.
Depois de toda a epopeia descrita, chega a hora da festa e de ver os meninos com roupa de velho. O perigo é que a cabeça envelheça junto com ela.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ah, vida real.

Se, um dia, me dissessem que eu ficaria intrigada com uma descoberta na aula de óptica, acharia, no mínimo, engraçado. Mas o fato é que estava eu tranquila assistindo à aula quando o professor fala que as imagens projetadas na retina são invertidas. Pronto, estava armada a confusão na minha cabeça.
A primeira reação que tive foi sentir-me n'O mundo de Sofia'. Ainda que minha história não estivesse sendo escrita por ninguém, só o fato de o mundo que percebemos estar de cabeça pra baixo e de nada garantir que o que vemos ser verdade foi suficiente para liberar minha imaginação - não que a aula ser de física contribuísse pra isso, jamais!
Pensei, depois, na Caverna, já que a "realidade" poderia ser apenas a sombra do que existe mesmo. Acabei concluindo, no entanto, que não é necessária física alguma para mostrar que estamos, sim, invertidos. Com os valores invertidos, pelo menos, pois toda essa frieza e indiferença não podem ser normais numa sociedade que se diz evoluída.
Estamos, no mínimo, letárgicos para deixar as coisas acontecerem - ou não fazer com que elas aconteçam - com tanta naturalidade. Como diz um poeta potiguar, balance a rede do mundo, que o mundo está dormindo. Ou invertido.

"Se estivesse acordado
Deixaria acontecer
Uns poucos querendo mais
Com terra, grana e poder
E outros pedindo um pouco
Sem ter um pão pra comer?
Balance a rede do mundo
Que o mundo está dormindo."

sábado, 10 de outubro de 2009

Querida mamãe, querido papai...

Vai chegando o fim do ano e todas aquelas datas comemorativas - não sei direito por quem - vêm junto. Eu não simpatizo nem com dia das Mães, quem dirá com o gasta-gasta do Natal. Nada contra Cristo, um dos maiores revolucionários da história, a meu ver, mas não me conformo com, em pleno Outubro, algumas lojas já começarem a tirar o Papai Noel do depósito.
Antes da farra do capital, porém, há o dia das Crianças. Estas, tadinhas, assistem à televisão, são bombardeadas de informações e acabam querendo ter tudo que lhes é oferecido. Os pais, na tentativa de diminuir a ausência cotidiana, oferecem a felicidade em bonecas que falam e carrinhos com controle remoto, para quem não pode controlar nem a própria vida.
Para completar, há todo um tratamento especial para o lisonjeado no "seu" dia, como se só nele a homenagem fosse merecida. A mulher ganha uma pintura de unhas no trabalho, e continua com seu salário inferior ao do homem, o professor ganha um lanche especial, e continua desvalorizado, com uma escola itinerante sendo fechada por ser acusada de usar o método Paulo Freire, um inafiançável crime. Qual o sentido de todas essas datas, então?
Agora, só falta o dia do vestibulando, quando irão vender o gabarito do ENEM. O pior é que tem muita gente pra comprar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta



Estava passeando pelas notícias do golpe em Honduras e vi que o toque de recolher foi abrandado por algum tempo. Enquanto, conforme o esperado, a maioria da população aproveitava para comprar alimentos, materiais de higiene e outros produtos básicos, formando filas imensas, alguns se preocuparam em ir aos shoppings.
Dá para imaginar a surpresa que tive ao ver a imagem de um casal lanchando em um dos paraísos do consumo, como se os tempos fossem de paz. Não sei se é alienação ou ignorância voluntária, mas acredito que é, no mínimo, uma atitude irresponsável - para não dizer egoísta - confinar-se em um mundo particular com tanta coisa errada acontecendo lá fora.
O estágio de privatização ao qual chegamos é tão grande que se individualiza até a realidade, como se fôssemos seres auto-suficientes. Não vou muito longe nos exemplos. Basta olhar para nossa elite e para a classe média que, ao invés de lutar por uma transformação, já que são os poucos (teoricamente) esclarecidos no país, preferem aumentar os muros de seus prédios e renegar o transporte público. Andar à pé, então, é atentado à moralidade.
Para diminuir a culpa que podem sentir ao olhar pros lados, organizam caminhadas como a que presenciei por passar na frente da minha casa, marchas com a família. Cabe lembrar que foi uma manifestação dessas que consolidou o Golpe de 64. Torço para que não estejamos diante de uma nova década de 60.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

É que a televisão me deixou burra, muito burra demais.

Favor desconsiderar a trilha sonora:


Finais de novelas me incomodam pelo simples fato de o país parar para acompanhá-los, como se não houvesse nada mais interessante para fazer. Sem contar os comentários no dia seguinte, que costumam assustar-me.
A novela que acabou na semana passada não foi exceção, logicamente. Pelo contrário, ganhei um bônus espanto quando ouvi uma pessoa falando que tinha sido um programa muito instrutivo ao mostrar a Índia. Ao replicar que era uma realidade de décadas atrás, recebi como resposta que era melhor que não mostrar nada. Ou seja, o negócio é a informação, não importando se ela for ou não condizente com a verdade. Nem pergunto mais onde iremos chegar, tenho medo da resposta.
Para completar a onda de comentários, escuto numa roda de conversa ao meu lado: fiquei indignada com o destino da fulaninha. Imediatamente, fiquei pensando em como as pessoas esquecem fácil do seu mundo e entram no outro que é agradável, com todos os conflitos encerrados com um final feliz.
Não entendo, no entanto, essa facilidade em revoltar-se com o virtual e encarar as arbitrariedades diárias com naturalidade. É como se assistíssemos a tantas tragédias, explorações e outras misérias que ficássemos insensíveis ao que está ao nosso lado. Cria-se um estado de letargia coletiva que substitui a Caverna de Platão. O mais preocupante é que a maioria faz questão de algemar-se.

Um dos melhores exemplos de confusão entre realidade e ficção:

sábado, 5 de setembro de 2009

O que você não sabe é como ganhar dinheiro

Nesta semana, estava conversando sobre aspirações quando, conforme a minha posição, disse que não tinha o objetivo de ganhar muito dinheiro. Não sei porque ainda fico surpresa com a reação dos meus interlocutores, porém, não consigo achar normal que se escolha uma profissão apenas pelo que vem, monetariamente, no fim do mês.
É comum que os conselhos quanto a escolha da carreira sejam: faça o que você gosta, o que lhe realizará. Mas, se o que lhe deixará satisfeito é cursar Música, por exemplo, você não deve saber bem quais são suas preferências, porque isso é coisa de desocupado.
Estamos imersos no culto à Medicina e ao Direito. Depois, estranha-se quando há falsidade ideológica nos Vestibulares mais concorridos. O que me incomoda não é nem a grande procura desses cursos, é o fato de a maioria das pessoas cursarem-nos por pura ganância, almejando ganhar muito dinheiro. Só não consigo entender a satisfação em passar a vida em função de um edital, como os "concurseiros profissionais".
Para completar minha irritação, ainda existem comentários como "mas você é tão inteligente... Devia fazer Direito". Chegamos a um ponto tal que a inteligência está extremamente instrumentalizada em prol do capital. Ser inteligente, atualmente, não é fazer o bem, buscar a justiça ou a mudança da sociedade. É ser individualista e desonesto, porque o honesto é otário. Se for assim, desculpem-me a ignorância, mas prefiro ser estúpida.

domingo, 30 de agosto de 2009

O eco de suas palavras não repercute em nada



Às voltas com os 20 anos de sua morte, tenho redescoberto Raul Seixas e feito umas constatações, no mínimo, curiosas. Não é segredo para ninguém que o artista tinha algumas idéias de transformação bem sólidas, como a Sociedade Alternativa. O que me intriga é a causa de, apesar de sua popularidade, não conseguir inspirar a força que possuía nos fãs.
Em um cover de Raul ao qual assisti, as pessoas cantavam efusivamente as suas músicas mais profundas, mas não pareciam tentar viver o que elas pregam. Há uma grande figura mundial que dizia que acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto.
Além do cover, havia, no local, um pôster do Che Guevara, personagem mais que midiático. Outro que possui legiões de admiradores que não se espelham, verdadeiramente, nele. Para dar uma idéia da deturpação de ideais pelo qual Che passa, ele é tido como santo no povoado no qual foi morto, tendo direito a velas e orações por parte da população, que nem sonha ser o jovem Ernesto um marxista e materialista.
Talvez, a grande questão envolvendo estas figuras sejam os "grandes feitos" por elas alcançados. Se só a denominação os deixa distantes, quem dirá quando analisados profundamente. Esquece-se, porém, que a mudança começa com quem está ao lado e, nem sempre, para ser importante precisa de grande reconhecimento. Como disse John Lennon, é necessário pensar global e agir local, senão ficaremos, eternamente, convencendo as paredes do quarto e dormindo tranqüilos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Minha esperança é imortal



Em meio a Sarneys e acordões para absolver todo mundo, a esperança leva mais um golpe. São farras das passagens, atos secretos e bravatas éticas que duram até as falcatruas do seu emissor serem descobertas também, pois, a partir daí, a idéia é a de que todos merecem a salvação.
Sou uma lulista assumida, mas não é por isso que acho que todos na base aliada sejam bons meninos bem intencionados, dos quais o inferno está cheio. Creio, sim, que as investigações têm que serem mantidas e os culpados condenados porque, enquanto o Sr. Sarney está protegendo a sua mansão, os maranhenses são os mais pobres do país. A pergunta que não quer calar é: por que não investir este dinheiro gasto em segurança para educar as crianças e evitar sua marginalização? Isso já não é mais egoísmo. É mesquinhez mesmo.
Do outro lado, o senador Arthur Virgílio, subitamente, deixou de incitar as punições ao presidente da Casa. Será que tem a ver com o fato de ele também ter as mãos sujas? A bancada dos "éticos", coincidentemente formada pela atual oposição que vendeu o Brasil, calou-se. Deram-se conta de que estão no mesmo barco do acusado, talvez?
São fatos assustadores e desestimuladores, reconheço. Mas, por isto mesmo, é mais uma chance para enxergarmos a necessidade de ser e fazer diferente, de ter um ideal e lutar por ele, afinal, ficar só no sonho não é suficiente. Só posso terminar com um trecho de um dos meus textos preferidos:

"Dirão: É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!"


Um bom qualquer coisa, com doses imensas de indignação.

Para quem quiser continuar tentando mudar o final: Campanha Ficha Limpa

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Panis et circenses

Não posso dizer que as últimas edições dos maiores telejornais do país tenham-me desapontado. Apesar de saber da indelicadeza e falta de ética das quais a Rede Globo e a Rede Record usaram para trocarem acusações, não posso deixar de curtir a queima do circo, literalmente, no nosso país.
A Rede Globo, com toda a sua aura de defensora da moralidade, não perdeu a chance de dar um cutucão na principal, ainda que distante, concorrente ao noticiar com destaque a investigação que ronda a Igreja Universal. Tudo bem que os Procuradores só estão mostrando o que todo mundo já sabia, que o dinheiro do dízimo não ia bem para as obras sociais, mas o peso dessas acusações é outro quando veiculadas no Jornal Nacional.
Edir Macedo, digo, a Record, não perdeu tempo e, em sua defesa, resgatou todo o passado sujo da Globo. Certas contradições são muito curiosas... Uma delas é que uma grande corporação televisiva que passou muito tempo lambendo as botas da ditadura e tentando influenciar o resultado de eleições queira atacar a outra que, não de modo mais lícito, ganhou a dimensão atual à sombra da Igreja Universal.
O fato é que ainda houve espaço para uma propaganda ufanista das maravilhas da IURD, mostrando projetos sociais, templos e - pasmem! - um jatinho dito essencial para os pastores. O que mais me incomoda nisso tudo é que tem gente que realmente acredita e tira o pouco que tem para dar a um milionário aproveitador. Religião é um assunto complicado e um negócio também.
À sociedade civil, resta acompanhar o desenrolar da novela e ver os podres das duas gigantes do pão e circo em horário nobre. Espero que sirva para que o povo brasileiro desligue a televisão por um bom tempo, pelo menos enquanto dura sua (curta) memória.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Odeio muito tudo isso!


Passando pelos sites de notícia, deparei uma que despertou a minha atenção e, de certa forma, deixou-me de alma lavada: um dos Mc Donald's teve que pagar indenização a vítimas de um golpe aplicado pelos funcionários da lanchonete.
Não consigo encontrar a injustiça em uma grande corporação arcar com os prejuízos causados pelos mais explorados e responsáveis pelo seu funcionamento, os funcionários. Como já dizia o ditado, ladrão que rouba ladrão... Imagine, então, um ladrão que contribui para a péssima alimentação mundial, desmatamento da Amazônia e ainda finge ser altruísta.
Uma olhada além do sanduíche que está prestes a ser consumido pode revelar mais do que o simpático palhaço quer passar. Nas fardas, por exemplo, não há bolsos. Desta forma, toda a gorjeta recebida termina no caixa. Para não falar na pressão pela padronização e exatidão dos lanches e na jornada de trabalho exaustiva.
É comum condenar o ladrão, sem uma investigação do que o levou a roubar. Claro que tal julgamento depende da conta bancária do transgressor, mas falo de ladrões de galinhas como os referidos golpistas. Em circunstâncias como estas, entretanto, só tenho pena dos agora ex-funcionários que sabotaram o sistema, ainda que inconscientemente, e serão punidos por isto.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

E se desentende no instante em que fala

Certas atitudes, quando muito repetidas, podem revelar bastante sobre uma sociedade, basta analisá-las. Uma destas análises ocorreu-me numa viagem, na qual estava visitando uma igreja que tinha um miserável na porta e um poço dos desejos em frente.
Turistas (a maioria dos transeuntes do local), por toda a aura de novidade e deslumbramento, costumam ser mais generosos que o normal. No entanto, notei que as pessoas passavam pelo pedinte na porta do templo sem nem exergá-lo, porque ver é diferente de enxergar. Acabavam indo diretamente à fonte dos desejos para satisfazer mais uma necessidade particular.
Pareceu-me um retrato do individualismo da nossa sociedade. "As pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer", não importando que se assuma papel de agente no mundo. Entre o nascer e o morrer, pode haver a preocupação com a "moral" (que fica mais imoral a cada dia), com os bons costumes (seja lá o que isto significa), com o casamento bonitinho e com a família convencional, vivendo das aparências e sem diálogo.
Se os conflitos aparecem, vai-se ao psicólogo ou procura-se a cultura do zen para resolvê-los, é mais fácil que administrá-los e canalizá-los para atividades em prol de um bem maior. Não faço uma apologia à completa confusão mental, pois esta também não é saudável, mas questionamentos sobre os rumos que a vida e o mundo estão tomando são sempre necessários.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ode à alienação

Uma breve leitura do jornal de hoje causou-me mais inquietação que o normal e, desta vez, não foi por causa da violência ou dos escândalos no Senado. Foi por causa dos programas disponíveis para os jovens nesta semana, que me deixaram preocupada.
De um lado, o endeusamento do Fortal. Duas pessoas falando das maravilhas do evento, como a possibilidade de fazer tudo que, certamente, estava ligado a todo tipo de bebedeira, desvalorização do corpo e música ruim que se possa imaginar. Eles faltavam dizer que iriam descer de seu pedestal, o camarote, para misturarem-se com o povão, os que seguem o trio elétrico no chão. Devo ressaltar que estes nada têm de povão, haja vista que os preços não são nada acessíveis. Tudo o que um evento poderia ter de melhor, portanto: Elitismo e música ruim.
A outra opção é o Halleluya, evento da ala carismática da Igreja Católica. As pessoas vão curtir o "axé de Deus" e as mesmas coisas que teriam no Fortal, a diferença é que sem bebida e com letras diferentes. Não sei até que ponto o evento é menos elitista.
O que questiono, entretanto, não é a animação por ela mesma. O problema é que falta que a religião seja voltada para a transformação da realidade e igualdade social, pois o que acontece é um aumento do individualismo, já que se reza por si e pelo semelhante, mas não se age para que a situação dele melhore. Como li em algum Evangelho que me falta o nome, se um faminto bate na sua casa e você não dá um prato de comida a ele, mas diz que rezará para que ele o arranje, não fez nada.
Como uma terceira opção, meio às escondidas, há um evento no Mercado dos Pinhões com direito a rememoração do Massafeira Livre. Uma pena que seja desprezado e as multidões prefiram ficarem reféns da cultura feita para elas (e para mantê-las sob controle).

sábado, 18 de julho de 2009

Quando dou comida a um pobre...

Fui ao cinema, no centro, com duas amigas e, na fila, tivemos uma surpresa assustadora. Conversávamos distraidamente quando alguém passou vendendo chiclete. A nossa surpresa veio quando vimos que a "vendedora" tinha menos de um metro e 4 anos.
O abandono da criança despertou em mim, que não pretendo ter filhos, os instintos mais maternais. Fiquei com vontade de criá-la. "Os pais devem ser safados, colocam-na para trabalhar e ficam parados", foi a primeira idéia que veio à minha mente. Enquanto esperávamos para comprar uma pipoca para ela, a garotinha relatou que a mãe estava trabalhando e o pai engraxando sapatos.
Não sei o que me revolta mais, se é quando os pais não trabalham ou quando trabalham desumanamente e não recebem o suficiente para sobreviver. São situações que não consigo encarar com naturalidade, muito menos dar uma esmola e achar que meu dever está cumprido. Lembro-me de D. Hélder Câmara, que diz que o chamam de santo quando ele dá um prato de comida a um pobre, mas o acusam de comunista se questionar as causas da pobreza.
Outra questão veio à tona depois: para quem recorrer em um caso destes? Se ligarmos para um abrigo, a criança fica abandonada e, se duvidar, passando fome. Não existindo um órgão competente para responder por isso, alguns desanimam e preferem deixar tudo como está. Lembro, agora, de um trecho de um filme que diz que estamos vivendo tempos difíceis e, justamente por isto, os mais emocionantes que poderíamos viver. Que nos recusemos a viver sem emoção, se isto significa agir na transformação do mundo!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Quem quer trocar a Copa do Mundo por um Brasil sem vagabundos?



Devo ser muito ingênua para este mundo, pois ainda fico perplexa com como algumas situações, a meu ver, absurdas são encaradas. Minha mais nova surpresa foi um site que “mapeia” os casos de violência no mundo e propõe que as pessoas compartilhem o que aconteceu com elas como forma de solidariedade.
Nada contra a iniciativa de proteger-se, mas não entendo como as arbitrariedades cotidianas podem ser aceitas com tanta naturalidade, como se o problema fosse ser resolvido apenas porque determinado local será evitado. Indo neste caminho, ficamos ainda mais presos atrás dos muros, já que os muitos casos só aumentam.
Somos tão bombardeados com a violência que parecemos ficar indiferentes com mais uma ocorrência. Já até separamos o “dinheiro do ladrão”. Começamos a achar normal evitar passar por alguns lugares, não mais colocar as cadeiras na calçada e a crescente distância entre as pessoas. Sem contar os inúmeros programas explorando a violência urbana, típico da nossa sociedade do espetáculo, uma teoria elaborada nos anos 60 que continua extremamente atual, já que, como disse o próprio autor, Guy Debord, uma teoria crítica não se altera enquanto perdurarem as condições histórico-culturais que lhe deram origem.
Ao enxergar tudo isto como algo intrínseco ao nosso país, não sentimos a necessidade de mudar esta realidade. Afinal, não se sente falta do desconhecido, ainda mais com uma Copa do Mundo pela frente para nos mostrar o quando o Brasil é maravilhoso e pentacampeão. E viva o ufanismo!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

We all want to change the world




É curioso o quanto a simples ida a um lado da cidade que não costumamos visitar pode ser reveladora. Ao cruzar Fortaleza para desbloquear minha carteira de estudante, acabei fazendo algumas constatações, desde a existência de uma cidade dentro da outra até as insatisfações com o poder público que só aparecem quando pisam no nosso calo.
Devido à demora para resolver as pendências, as pessoas começavam a reclamar e a "revoltar-se", uma revolta que provavelmente acabaria quando chegassem a casa com seus problemas solucionados. Pergunto, então: E a indignação pelo abandono aos que não têm o que comer, vestir e vivem na miséria absoluta? Estes nós não vemos todo dia, não são de casa, não nos atinge. Lembro-me dos muitos que dizem não aceitar as mazelas do mundo e a ação é contrária ao discurso enfeitado que possuem (qualquer semelhança com muitos políticos e "religiosos" não é mera coincidência).
Na volta para casa, passei por uma Igreja Universal que, anunciando seu novo produto, como o fazem as grandes corporações, prometia a gota da salvação. Será uma forma atualizada de comprar o lugar no céu? Não sei como os “responsáveis” por tal empreendimento não ficam com peso na consciência de explorar quem já pouco possui. O irônico é que Leonardo Boff foi expulso da Igreja Católica por defender os oprimidos quando a instituição não o fazia e hoje é moda explorá-los usando a “espiritualidade”. É o capitalismo e sua capacidade de reinventar-se.

sábado, 6 de junho de 2009

Perca um livro

De início, havia o receio. Abrir mão de seus livros em prol de qualquer um não era uma idéia que lhe agradasse. Ao mesmo tempo, se sentia como um daqueles intelectuais que tanto criticava, aqueles que parecem querer monopolizar o conhecimento e privatizá-lo como propriedade sua. Logo ela, que rejeitava a propriedade privada.
Resolveu, então, aceitar a proposta. Entrou no site, cadastrou o livro e o deixou na prateleira, só esperando sua próxima ida ao supermercado que possuía parada de ônibus com abrigo em frente. Até o local em que ia colocar seu tesouro era meticulosamente pensado, afinal, sentia-se compartilhando parte de si. Ainda tomou o cuidado de escrever um texto explicativo para que quem não tivesse acesso a internet não se sentisse excluído.
Após algumas semanas, veio a necessidade de ir ao supermercado. Ao passar pelo ponto de ônibus, não havia lugar para colocar o livro como planejado. Colocou, então, em cima do lixeiro e foi as compras. Enquanto estava lá, só pensava em quem poderia ter pegado o livro.
Quando saiu, não avistou-o mais no local. Foi se aproximando e viu uma mulher com expressão satisfeita, parecendo folhear algo. Discretamente, passou ao seu lado e notou que o objeto folheado era o seu (ou não mais, não importava) livro.
Subitamente, foi tomada por satisfação e sentiu que o seu conhecimento estava sendo útil. Experimentou do que um amigo, na sua simplicidade, falava sobre inteligência (usá-la para o bem comum) e viu que era verdade quando ele afirmava que quem recebe a maior recompensa é você mesmo, pois fazia tempo que não sentia tanta vitalidade e esperança.
Já não importava quem era a mulher, ou se ela daria continuidade à campanha. O que a menina sabia era que precisava fazer valer todo seu esclarecimento e, para isso, teria que dividi-lo.

Site da campanha: http://www.livr.us/

sexta-feira, 29 de maio de 2009

As flores de plástico não morrem.


Na nossa sociedade capenga, que se preocupa demais com o prazer instantâneo em detrimento da humanidade, há uma preocupação demasiada em não se ferir, levando a um hermetismo emocional. Não se sente o problema do outro, não há interesse em romper a bolha que rodeia a vida de muitos.
Comprando alternativismo na Renner, consciência ambiental com uma Coca-Cola e mantendo relações virtualmente, estamos protegidos. Para que se expor a mais que isso, saindo do perímetro seguro? As ruas são perigosas, os ônibus estão lotados de marginais e não devemos falar com estranhos. Pode ser uma realidade exagerada, orwelliana até, mas é necessário que nos precavamos para não chegarmos até tamanho absurdo.
Recordo-me de uma música dos Titãs que diz: As flores de plástico não morrem. Visto cruamente, seria uma grande vantagem possuí-las, já que somos fascinados pela imortalidade. Devo lembrar, no entanto, que as flores de plástico são artificiais e sem brilho próprio. Qualquer semelhança com muitas pessoas atuais não é mera coincidência.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A gente vai contra a corrente, até não poder resistir.

De vez em quando, vejo-me pensando no conceito de amadurecimento nestes nossos tempos loucos, nos quais parece estar tudo trocado, com o que era virtude virando vício. Devo confessar que não sou afeita a tradições, mas parece que as coisas estão ficando piores. Para quem faz questão de ser diferente, então, é um novo golpe a cada dia.
Parece que fazem questão de nos transformar em pessoas medíocres, iguais a eles, sob a desculpa do amadurecimento. “Você só é assim porque é nova”, “Isso é fase”, “Quero ver essa paixão daqui a alguns anos” são frases recorrentes ao meu cotidiano. Reconheço que é fácil ser de esquerda e ir de encontro aos males do mundo enquanto se é jovem, mas não aceito a descrença no caráter que deve ser enraizado desde cedo. E outra. Atualmente, o padrão é não ter nada na cabeça nem se preocupar com coisa alguma. Então, não é tão simples assim, são pressões de todos os lados.
Não entendo, também, porque tentar podar os sonhos de quem busca uma nova realidade. Soa recalcado, como birra de criança, como se dissessem: “Eu não consegui, você também não vai”. Esquecem-se, então, de quão necessária às pessoas é a justiça, o amor e outras dessas coisas fora de moda.
Para justificar-se perante a sociedade, surge a desculpa pequeno-burguesa do amadurecimento, como se este fosse sinônimo de mediocridade. Para evitar encontrar consigo mesmos, criam a armadura e se eximem de suas contribuições para os rumos da humanidade. Para completar, continuam tentando arrancar brutalmente as esperanças dos que passam por suas vidas, esquecendo-se do efeito contrário que isto pode ter. Após o impacto inicial, interiorizo ainda mais o pacto selado comigo mesma de ser diferente e esfregar na cara deles, mais tarde, que fui contra a corrente quando eles, como já dizia Chico, em Roda Viva, precisaram recorrer à volta do barco, sem sentir o quanto deixaram de cumprir.

sábado, 16 de maio de 2009

Divagações...




"Somos quase livres, e isto é pior do que a prisão". Se pudesse, em uma frase, expor um dos efeitos do vestibular, seria essa. Quase livres por estarmos, teoricamente, fechando o ciclo de maior dependência e vermos a vida se abrir num feroz carrossel. Entretanto, ficamos presos a uma prova que tem o poder de decidir nossos rumos e nos prende de todas as formas. Mutila o conhecimento e nos enche de informação, ficamos abarrotados de experiências teóricas e esquecemos do concreto.
Sabemos o tipo de clorofila presente em cada alga e não conseguimos fazer uma massagem cardíaca que pode salvar uma pessoa. Sabemos o mecanismo de atuação da bomba atômica, mas não nos preocupamos em sanar os problemas que levam a sua aplicação. Sabemos que existem países deploravelmente miseráveis, mas não nos mobilizamos (nem somos incentivados a tal) para melhorar o nosso. Sabemos que a corrupção assola o Brasil desde 1500, mas não temos consciência para protestar seriamente contra ela.
De que nos servirá tudo isso, afinal? Respondo, senhores: Para nada! Chegaremos à Universidade cheios de falsa intelectualidade e com pouca humanidade, típicos homens do Século XXI, no qual compramos a nossa informação em revistas pouquíssimo confiáveis.
Chaplin já nos alertava, desde a época em que o fascismo arrebatava multidões, para o perigo da clausura na era da velocidade. O que escolheremos, portanto? A maioria prefere omitir-se, esquecendo que não escolher já é uma. Então, se iremos fazê-la de qualquer jeito, por que não optar pelo melhor?

P.S.: A fala do quadrinho não é tão importante assim...

Hora do Planeta

Seria mais uma noite de sábado comum se não houvesse aquela aura de esperança e compromisso no ar. Será que as pessoas apagariam realmente as luzes? Qual seria o impacto daquela movimentação? Estávamos envolvidos pelo misto de curiosidade e revolta, de protesto e novidade. Em outras cidades do mundo, a participação foi maciça. Como seria na nossa província esquecida e que gosta de esquecer?
Às oito horas, então, as luzes foram apagadas. Sob o protesto do projeto de pessoa presente, que insistia em ser controlada pelo controle da TV, toda a casa ficou no escuro. À luz de velas, nos acostumamos com a falta de claridade que, por diversas vezes, só nos deixa ver o que ela quer. Dando uma pausa na maré de informações e velocidade que nos cercam, afloramos nossas subjetividades.
Durante o jantar, ainda com pouca iluminação, os mais diversos temas vieram à tona, obrigando-nos (ou obrigando-me, nunca se sabe) a rever conceitos e posições que perpassam a existência. A clareza foi tanta que nos esquecemos de acender as luzes, e a nossa Hora do Planeta durou bem mais que 60 minutos, talvez ainda esteja acontecendo.
Lembramo-nos, ainda, de olhar pela janela e ver quem nos tinha acompanhado. Tivemos a impressão de ver uma luz apagando em outro prédio, enquanto a cidade permanecia acesa. Mas não mais importava, a nossa saída da caverna já tinha começado, só falta incentivarmos muitos outros a quebrar as amarras.