domingo, 1 de maio de 2011

Impressões de uma vermelha no coração do capitalismo

Em primeiro lugar, devo começar explicando as circunstâncias que me levaram a Orlando, enquanto eu pensava que iria a Cuba. Elas se chamam irmãs. Quando você inclui as duas numa viagem, dá nisso. Mudamos o destino de Havana para os parques da Disney. Eis as adoráveis:
E aí chegamos à terra do Tio Sam. Como boas vindas, o policial federal armado na imigração, com cara de skinhead e que ficou bem desconfiado do meu pai quando o visto dele deu um problema. Mas passamos pelo primeiro desafio. Íamos passar a noite em Miami, e a segunda prova do dia era chegar ao hotel. Esperamos o ônibus que nos levaria, mas tudo indicava que estávamos no local errado. Um estadunidense emburrado depois, que fingiu que não ouviu quando pedíamos informações, encontramos um motorista que explicou para onde deveríamos ir. Até então, já tinha ouvido mais espanhol que inglês e visto mais latinos que estadunidenses. Bem que alertaram que a Flórida não é bem o que você chama de Estados Unidos.
No primeiro hotel, nada a se registrar, fora o recepcionista que sempre responderia em espanhol, não importa o quanto gastasse meu domado inglês para ser o mais nativa possível. Ah, e a chinesa que gritava loucamente no saguão, como se todos estivessem entendendo-a. No jantar, começou a minha saga. Tinha sido alertada de que teria comida sem glúten em todos os restaurantes, e estava bem animada, porque só eu sei como sinto falta de uma pizza. Foi aí que comecei a entender que seria mais fácil comer no Brasil que na terra da democracia.
No segundo dia, pegamos o carro para ir a Orlando. Depois de eu programar o GPS para nos levar de volta ao aeroporto e ficarmos perdidos, conseguimos pegar a estrada. Não preciso nem falar que são que nem as de filme, né? Muitas faixas, velocidade mínima e sem buracos. Para quem vive em Fortaleza, é quase inacreditável. Claro que não demora muito e começam a aparecer os pedágios. Fiquei surpresa de ver algumas obras de alargamento. Parece que alguma coisa do New Deal Obama está aplicando.
Chegando em Orlando, entendi mais ou menos como era a cidade. Ruas largas, tudo muito espalhado, restaurantes, hotéis e condomínios fechados. Pouca gente na rua, andando a pé. Tudo parece ser feito em função do automóvel. Minha primeira tarde na cidade foi gasta no outlet, e ali entendi o que tanto fascina quem gosta de comprar. Calças jeans por 12 dólares, blusas por 6, produtos de beleza por 4. Tudo feito em El Salvador, Guatemala, Malásia, Honduras e, claro, China.
No primeiro dia de parques, fomos ao Busch Gardens. Como adoro montanha-russa, me diverti muito. Presenciei, ainda, uma cena deprimente. Um homem, depois de pegar uma fila de
40 minutos, não pôde descer no brinquedo porque cabia no cinto de segurança. E ainda encontrei a seguinte plaquinha:
Sim, eram cartas dos soldados estadunidenses que tinham ido ao Iraque. Tava demorando pra aparecer algo assim.
O segundo parque, já na Disneyworld, foi o Hollywood Studios. Tive uma aula de indústria cultural. Lá, são apresentados alguns shows que reproduzem cenas dos filmes, como carros pegando fogo e em cenas de perseguição ou o Indiana Jones sendo esmagado por uma pedra. A impressão que dá é que não se pode fazer arte, muito menos cinema, sem gastar muito dinheiro e sem efeitos especiais. Durante o passeio que fizemos por cenas de filmes, um fato que considero uma piada da Disney: colocaram Woody Allen como um dos grandes diretores hollywoodianos. Comecei a entender como a obesidade realmente era um problema ao olhar mais para os lados e ao ver uma das iguarias mais pedidas no parque: coxa de peru. Pedi uma, certa de que não faria mal algum. Vi que não era bem assim quando ela era tão pesada que tinha que revezar segurá-la com outra pessoa e pelo tanto de gordura que continha. Teria sido mais saudável um sanduíche.

O próximo parque era o Magic Kingdom. Ah, seu encantamento, suas princesas, seu calor, seus brinquedos bestinhas... Embora muito bonito, não vale o cansaço. Não dá para visitar a Disney sem conhecê-lo, mas eu pensaria três vezes antes de ir de novo. Pro pessoal de Fortaleza, o show de fogos do reveillon não deixa a desejar quanto ao de lá. A diferença que você vê quando a iniciativa privada tem interesses é que o Magic Kingdom tem um VLT e barcos próprios. Os funcionários são muito atenciosos e simpáticos, mas lembro de ter visto poucos negros no local. Lembrei também da política de intercâmbio na Disney, na qual você acaba pagando para trabalhar, e me soa muito sem sentido algo assim, principalmente para um universitário, que é o alvo do projeto.
O Universal Studios é muito legal, mais voltado pro público adolescente. Curiosa é uma política que eles têm de você comprar um passe que dá direito a passar na frente na fila. Por um preço bem salgado: 70 dólares por pessoa.
No último dia é que fomos no que há de mais interessante. O Island of Adventure e sua parte dedicada ao Harry Potter. Eu, que cresci lendo os livros do bruxo e imaginando como seria fazer parte daquilo, fiquei encantada. O castelo de Hogwarts é uma das coisas mais impressionantes que já vi, temos a impressão de estar dentro do filme. Sem contar o brinquedo, que abusa da tecnologia para nos fazer acreditar que estamos mesmo numa vassoura. Ao ver a cerveja amanteigada, sapos de chocolate e feijõezinhos de todos os sabores à venda, entendi como toda a série é perfeita para virar um parque, filme e todos os produtos em que a indústria cultural queira transformá-la. Ainda assim, minha parte fã ficou bastante encantada de estar ali.

Depois daí, a minha vontade de voltar para casa, que já tava imensa, só aumentou. Já tinha visto o que me interessava, estava doida pela minha comida sem glúten e a saudade de um certo alguém apertava como nunca. E ainda viria uma longa noite em Miami.
Ficamos no hotel do aeroporto. Até aí, pensei que estaria tudo bem, mas descobri que eles cobravam pela internet wi-fi. Como boa jovem imersa na cultura digital, fiquei inquieta e com raiva, e aí sim o tempo demorou para passar. Minha raiva foi ainda maior quando cheguei no aeroporto de Manaus e a internet era gratuita. Acho que as lições de inclusão digital ficaram um pouco defasadas na "América".
Para fechar a minha saída com chave de ouro, tive que tirar o casaco, o sapato e tudo que tivesse no bolso para passar pelo raio-x, aquele que vê tudo, e entrar na sala de embarque, num aeroporto gelado. Respeitar as individualidades não era uma das grandes virtudes do capitalismo?
No final, o que tiro de saldo é poder criticá-los com um pouco mais de propriedade, embora a Flórida tenha suas particularidades, e um passeio muito legal pelos parques. Quando me perguntam se gostei, é o que costumo ressaltar. Gostei dos parques, do entretenimento, mas não aguentaria mais que uma semana.

5 comentários:

  1. 'e a saudade de um certo alguém apertava como nunca'

    ô-meu-deus!
    huashusahu SEUS LINDOS

    ResponderExcluir
  2. mais que uma semana só em sobral, né?

    e essa blusa do aprecodebanana para quem gasta em dólares?

    ResponderExcluir
  3. O que achei bastante interessante nos teu relato é que ele não tem "ranço", ou seja, não deixa de chamar a atenção para coisas interessantes do "coração do capitalismo"... Bem diferente de certas pessoas de direita que vão à Cuba e só falam de "como é horrível viver lá" (talvez porque não aguentem passar mais de dois dias sem coca-cola, hehe).

    ResponderExcluir
  4. Você é comunista? Tão mais legal ser anarquista. Mas respeito, acho válido dizer o que se é sem medo. Parabéns pelo blog :)

    ResponderExcluir
  5. Esse anônimo parece alguém que me conhece... oO

    ResponderExcluir