
Eu adoro festas, mas só de pensar nos preparativos - apertar o vestido, comprar o sapato, ir ao salão - sinto uma preguiça enorme. Sem contar que sou alvo de piadas por parte dos amigos desde a semana anterior por causa do meu jeito, digamos assim, diferente.
A odisseia começa na compra do vestido. Lá vou eu, de calça jeans, camiseta e chinela, atrás do meu vestido passeio completo. Não sei por que, mas tenho a impressão de que quando a vendedora coloca o salto 15 cm para completar o traje, é só para ter certeza de que meu mundo é outro.
Concluída a primeira parte, é hora de comprar o sapato, que não pode ser muito alto, afinal, o plano é passar a noite calçada. Não sei qual a dificuldade das atendentes em falar logo que não têm o que procuro. Deve ser uma vaga esperança de que vou mudar de ideia ao ver o mais novo lançamento da marca. Mal sabem elas que aí é que repugno o referido objeto. Depois de muito andar, no entanto, encontro o famigerado calçado.
Para encerrar, o salão de beleza, um capítulo à parte. Não tem coisa que odeie mais que acordar cedo, principalmente no fim de semana. E, normalmente, inventam uma coisa pra eu fazer durante a manhã - sim, meu cedo é a manhã inteira -, nem que seja dar uma viagem perdida. Eu devo ser a antipática de todos os cabeleireiros que já frequentei, pois não sou de puxar assunto ou ficar conversando horas e horas enquanto tiram a minha sobrancelha. Sou adepta do MP3 e do livro, ao invés da televisão e das revistas tão construtivas disponíveis.
Mas o que mais me intriga é a capacidade que algumas pessoas têm de contar a vida toda a qualquer estranho. É exposição demais para mim. Ah, também não há perigo de sair do salão sem um pitaco sobre o meu cabelo levemente hippie. A síntese das opiniões é: alisamento. Parece que é pecado não querer ser Barbie.
Depois de toda a epopeia descrita, chega a hora da festa e de ver os meninos com roupa de velho. O perigo é que a cabeça envelheça junto com ela.