quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta



Estava passeando pelas notícias do golpe em Honduras e vi que o toque de recolher foi abrandado por algum tempo. Enquanto, conforme o esperado, a maioria da população aproveitava para comprar alimentos, materiais de higiene e outros produtos básicos, formando filas imensas, alguns se preocuparam em ir aos shoppings.
Dá para imaginar a surpresa que tive ao ver a imagem de um casal lanchando em um dos paraísos do consumo, como se os tempos fossem de paz. Não sei se é alienação ou ignorância voluntária, mas acredito que é, no mínimo, uma atitude irresponsável - para não dizer egoísta - confinar-se em um mundo particular com tanta coisa errada acontecendo lá fora.
O estágio de privatização ao qual chegamos é tão grande que se individualiza até a realidade, como se fôssemos seres auto-suficientes. Não vou muito longe nos exemplos. Basta olhar para nossa elite e para a classe média que, ao invés de lutar por uma transformação, já que são os poucos (teoricamente) esclarecidos no país, preferem aumentar os muros de seus prédios e renegar o transporte público. Andar à pé, então, é atentado à moralidade.
Para diminuir a culpa que podem sentir ao olhar pros lados, organizam caminhadas como a que presenciei por passar na frente da minha casa, marchas com a família. Cabe lembrar que foi uma manifestação dessas que consolidou o Golpe de 64. Torço para que não estejamos diante de uma nova década de 60.

3 comentários:

  1. E você sempre com os melhores vídeos, né?
    Nao concordo com esse prévio julgamento a respeito deste casal.
    É necessário não ser nenhum insensível ao que tem acontecido, no entanto, não significa que devemos deixar de viver nossas vidas e chorar lágrimas pelo acontecido. Fazer nossa parte é essencial, quem sabe eles fazem, aplenas não explicitam. Curtir ou não o seu mundo particular não significa que estes não tenham mente política e ações cidadãs.

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  2. Lembrou-me uma música do Rappa - Minha Alma.

    Ao ler seus textos, escuto a mim mesma há alguns anos. Espero que você não perca o poder de indignação como eu perdi. Devo dizer que hoje compartilho desse mundo de "Privatização" do sentir e do ser. É que existir coletevamente cansa, Tanto! É só para pessoas de estômago forte.

    E quanto ao casal, compreendo o lanche vulgar...afinal, a realidade política e social nunca foi tão generosa com eles. Em momentos de desespero, é cada um por si. =T

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  3. Como dizia uma música cantada por Mercedes Sosa:
    Quantas vezes me matarão
    Quantas renascerei...

    Há nós não é dada a possibilidade de desistir de acreditar em um nundo mais justo.

    Fica feliz

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