Não sei nem dizer se realmente fiquei abismada, mas não posso negar a surpresa ao ler que o ex-Governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, se disse ressentido devido aos últimos acontecimentos. Parece um teste para ver até quando ainda é possível brincar com a população impunemente.
As imagens - e o passado do político - não negam que ele merece a cadeia, e Arruda ainda tem a cara-de-pau de inventar chateação. A única razão pela qual seu aborrecimento seria aceitável é o fato de o Brasil ser um país onde trapacear e tirar vantagem são atividades encaradas com normalidade e ele teve o azar de ser flagrado cometendo o crime. E uma medida mais exótica ainda: a lei está sendo, até agora, cumprida. Certamente, o ex-Governador vislumbrava um acordão para salvar o pescoço, o que se mostrou uma ilusão. Só espero que, daqui a alguns dias, não haja motivo para ele caçoar da sociedade que o julgava impotente.
A afirmação de Arruda fez-me, ainda, levantar outra questão: se ele, com todas as mordomias das quais dispunha - tudo pago pela população -, acha-se no direito de reclamar de algo, imagine o cidadão comum, que paga seus impostos sem receber nada em troca, que encara uma jornada de trabalho exaustiva por um salário mínimo. Sorte dos poderosos que a tensão social no país é pequena - sem mencionar o grau de reflexão crítica das pessoas -, senão, estaríamos vivendo em um barril de pólvora. E motivos para sua explosão não faltam.