segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vão viver sob o mesmo teto até que a morte os una

Estava em um bar, durante o Carnaval, em que tocava Raul Seixas e oferecia sinuca para os clientes, quando uma amiga comentou comigo a cena a que tinha acabado de assistir: uma família bem convencional passava pelo local, com os vidros do carro fechados, claro. De repente, o filho olha para dentro do "antro de perdição" e o pai dá-lhe um tapinha nas costas, como quem o manda ficar longe daquilo.
Cada um tem o direito de ir aonde quiser, de frequentar os lugares que desejar - e vai-se criando uma população que só conhece o próprio umbigo -, mas que se mantenha, ao menos, a coerência. Duvido que esse pai de família nunca tenha estado em ambientes como o que agora quer afastar. Vai ver que é o mesmo rapaz que, há alguns anos, fumava maconha porque todo mundo o fazia.
Não quero dizer que as posições não possam ser revistas, mas sem falso moralismo. Uma violência muito maior que contemplar a vida boêmia é a frieza cotidiana, por exemplo. Presenciar o pai pensando em cianureto - e a mãe sonhando com formicida - é bem mais traumatizante que o contato com a vida real. O preocupante é que o atual filho terá sua família daqui a alguns anos, quiçá, carregando os mesmos vícios - constantemente, encarados como virtudes -.

3 comentários:

  1. O pai dá um tapinha no filho para que "ele fique longe daquilo porque é muito perigoso", mas aí chegando em casa liga a televisão, que é só estímulo à violência e ao consumismo. Acaba de surgir mais um "filho de apartamento"...

    ResponderExcluir
  2. são poucos os boêmios que duram a vida toda... os poucos que conseguem tal proeza geralmente são artistas ou ícones cariocas, já que boa parte fuma e bebe e fode de tudo na faculdade, com o mais sincero ideal de viver na curtição para sempre, para alguns anos depois tombar na rotina ou em trabalhos insignificantes, em vidas pequenas. Chegam a ser piores que os naturalmente "quietos" e "médio-classistas" porque fracassaram: conseguiram apenas algumas "histórias bobas que é melhor a gente esquecer"

    ResponderExcluir
  3. Só deixando claro que a idéia não é fazer uma apologia à bebida, droga ou outras coisas. A idéia foi falar um pouco da hipocrisia que nos permeia...

    ResponderExcluir