terça-feira, 27 de abril de 2010

Mergulho no silêncio

Segunda-feira, horário de pico, terminal lotado. Como de costume, ele senta no mesmo banco, para esperar o mesmo ônibus. Entra-e-sai, pregações, conversa e barulho, muito barulho. Tudo seguia em acordo com a normalidade, quando ele sente uma mudança súbita.
De repente, como se todos ficassem consternados, o único som que rompe o silêncio é o barulhinho de tic-tac do vendedor. Nem um ônibus, nem uma palavra. Pensamentos somente, e cada um guardando o seu. Ele ficou tão impressionado que mal conseguiu levantar do lugar onde estava sentado; só queria observar, para não estragar aqueles minutos tão improváveis. Em meio à conturbada rotina e às muitas palavras inúteis gastas a todo hora, um diminuto tempo para organizar as ideias parecia um oásis.
E foi pouco mesmo. Logo depois, ele se deu conta de estar, novamente, imerso na loucura nossa de cada dia, com os ônibus fazendo seus barulhos característicos e as pessoas correndo. Provavelmente, para viver.
Ele, ainda no piloto automático, entrou no Varjota para ir pra casa. Surpreso, acordou com o barulho da cordinha puxada por si mesmo, ao notar que perdera a parada.

A um amigo que, muito mais que a inspiração do texto, me traz a inspiração cotidiana, ainda que ele nem saiba disso.

2 comentários:

  1. Pensava nisso hoje, nesses silêncios, nesses barulhos dos nossos passos correndo atrás de ganhar a vida, estamos presos à corrida, sem alcançar a vida.

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  2. Li e lembrei de um texto do Caio Fernando Abreu que a Gabi pediu pra eu ler antes da aula... apesar da diferença do tamanho, tu conseguiu manter a mesma ação que ele, como se não desse pra parar de ler, acompanhando o movimento do texto... muito bom!

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