quinta-feira, 27 de maio de 2010

Não temos tempo de temer a morte



Entrar no elevador ou receber uma circular condominial no meu prédio são sempre momentos emocionantes, pois não sabemos o que vamos deparar. Entre a proposta de transformar o salão de festas em uma casa de chá - como dizia Cazuza, são caboclos querendo ser ingleses - até a de construir uma rampa para cadeirantes, tudo é possível.
A última proposição foi a de construir uma brinquedoteca comum - com jogos e brinquedos que os infantes têm em casa -, como se as crianças não estivessem preocupadas em correr e liberar energia ao saírem do sufocamento de seus quartos. O argumento é sempre o mesmo: o perigo do mundo, evitar sair de casa por causa da violência... E, assim, os filhos de apartamento, com mentalidade tal, vão se propagando.
Não sei como se pode ambicionar criar uma pessoa esclarecida e ativa socialmente, se ela não conhece a vizinhança - pelo menos, não mantém nenhum contato sem o vidro do carro interpondo-se -. Vai ver que a idéia é só disseminar o "homem de bem", figura da qual tenho um medo profundo, cultivando o seu individualismo característico, capaz de tudo para manter sua proteção - e a da família, claro -.
Eu já vejo a questão por outro lado. Não é porque os perigos são inumeráveis que a solução é trancafiar-se. Pelo contrário, grandes combates são sempre necessários, e não se entra em ação lutando contra as quatro paredes do quarto, nem defendendo apenas SEU quinhão, deixando o do outro para ele se virar sozinho para cuidar.

"Nas ocasiões em que tudo leva ao medo, não se deve ter medo de nada; quando se está rodeado de perigos, não se deve temer perigo algum."
(Sun Tsé)

2 comentários:

  1. Eu não consigo imaginar uma infância na qual só se brinque dentro de casa. Quando eu era criança, já existia violência, assaltos, mas não essa paranoia toda dos dias de hoje. Brincava na rua, jogava bola, andava de bicicleta (com direito a apostar corridas e sofrer alguns acidentes, que me machucaram mas nunca me tiraram nenhum pedaço)... Via televisão também, mas a hora de ir brincar com os amigos na rua era sagrada: pelas 4 da tarde (no inverno era por volta das 3 para aproveitar mais o sol) todo mundo "descia" de seus apartamentos para a calçada.

    E se o problema é a criminalidade, o negócio é justamente ocupar as ruas, pois com mais movimento elas são mais seguras. Sem contar que geralmente quem se tranca dentro de casa para solucionar o "seu problema" da insegurança (sempre assim, individualmente) esquece do coletivo, da questão social, tão importante.

    Mas, os "homens de bem" (dos quais também tenho medo) insistem em não pensarem nisso...

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  2. Querida Camila.

    Hoje a maior parte das pessoas vive assim.
    Optei por morar em casa,
    para ter vizinhos.
    Para ouvir, alegrar, aborrecer.
    para plantar um jardim,
    para ouvir um cachorros,
    para sentir o cheiro
    maravilhoso de gente.
    Viver é isso.

    Que haja sempre em
    teu coração espaço
    para os sonhos.

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