quarta-feira, 29 de julho de 2009

E se desentende no instante em que fala

Certas atitudes, quando muito repetidas, podem revelar bastante sobre uma sociedade, basta analisá-las. Uma destas análises ocorreu-me numa viagem, na qual estava visitando uma igreja que tinha um miserável na porta e um poço dos desejos em frente.
Turistas (a maioria dos transeuntes do local), por toda a aura de novidade e deslumbramento, costumam ser mais generosos que o normal. No entanto, notei que as pessoas passavam pelo pedinte na porta do templo sem nem exergá-lo, porque ver é diferente de enxergar. Acabavam indo diretamente à fonte dos desejos para satisfazer mais uma necessidade particular.
Pareceu-me um retrato do individualismo da nossa sociedade. "As pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer", não importando que se assuma papel de agente no mundo. Entre o nascer e o morrer, pode haver a preocupação com a "moral" (que fica mais imoral a cada dia), com os bons costumes (seja lá o que isto significa), com o casamento bonitinho e com a família convencional, vivendo das aparências e sem diálogo.
Se os conflitos aparecem, vai-se ao psicólogo ou procura-se a cultura do zen para resolvê-los, é mais fácil que administrá-los e canalizá-los para atividades em prol de um bem maior. Não faço uma apologia à completa confusão mental, pois esta também não é saudável, mas questionamentos sobre os rumos que a vida e o mundo estão tomando são sempre necessários.

4 comentários:

  1. NOSSA! esse é o melhor texto do blog, parabéns!

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  2. Alguém leu para ele uma oração.
    Ele achou-a linda. Falava sobre amor.
    Ele agradeceu, perguntando onde estava na oração a justiça, e acrescentou: amor e fé são importantes,mas nada valem se na prática não inspirarem justiça.

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  3. "(...)mas questionamentos sobre os rumos que a vida e o mundo estão tomando são sempre necessários". Embora seja mais "fácil" não pensar, fazê-lo é preciso.

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  4. O "fácil" move os animais, que buscam a comidade e o conforto além da sobrevivência, em um complemento à evolução. Já o belo, a razão e os sentimentos são as forças motrizes da humanidade. Mas o homem, ah, ele não sabe o que quer. Não sabe se é humano ou animal, não quer sê-lo quando é preciso, e na velocidade dessa geração, a mistura ficou ainda mais incompreenssível.

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